A Banda Plástica da Mente
Um cenário quase surrealista apresentou-se a mim nestes dias que antecedem o natal. Peço desculpas aos membros desta rede social empenhados em divulgaçao de assuntos de interesse científico pelo que escreverei a seguir mas logo compreenderão porque não pude me conter.O fato que deu origem a estas reflexões foi o seguinte : Todos os dias, quando retorno do meu trabalho para minha casa tenho de passar necessariamente pelas dependências de um shopping para ter acesso ao metrô. Na entrada de um deles ( existem dois, um em cada lado da linha do metrô) já está montada a árvore multicolorida, um Papai Noel postado em sua base, um barraco de madeira ao lado com dispositivos que lembram um estúdio de gravação e fotos e uma mesinha de som em frente onde um ¨punk¨manipula seus botões cibernéticos e seleciona o som ambiente. Ao passar pela entrada para tomar um café, a primeira surpresa : a tradicional Jingle Bell tocando em ritmo de samba e carnaval !! Olhei, escutei, passei e subi para o café. Nos céus, nuvens escuras prenunciavam chuva torrencial e não demorou muito para as primeiras gotas começarem a cair. Terminei e desci. Enquanto me aproximava novamente da entrada comecei a ouvir o bloco seguinte : uma seleção de músicas típicas de discotecas-boites, tipo bate-estaca e bastante adequada para ¨ turbinar¨shows eróticos e ramificações !! Fiquei pasmo ! Postei-me em frente à vidraça que separa as dependências internas da parte externa e olhei para os jardins e a rua. Lá fora um temporal dos diabos. Mudei o foco e pelo vidro conseguia observar o que estava se passando um pouco ao lado e a alguns metros atrás de mim ( o ângulo de reflexão da luz é igual ao ângulo de incidência ) : As mamâes-noeis dançavam em ritmo de discoteca. O Papai Noel ( de óculos ) também dançava e abraçava uma jovem e bonita colegial adolescente de uniforme com um sorriso cínico típico. Identifiquei imediatamente uma guerra de informação bioquímica e neurotransmissores oscilando loucamente para manter seu comportamento em níveis adequados à situação criada e lutando heròicamente contra as intruções codificadas naquilo que alguns sociobiologistas denominaram de Imperativo Reprodutivo. Prestei mais atençao, olhei para os lados e vi o cartaz : Natal divertido no Shopping , com personagens de desenhos e história em quadrinhos, etc..,etc...Pensei comigo mesmo : os criacionistas opositores da teoria da evolução estão identificando o inimigo errado ! Eis aqui um magnífico exemplo de como mudanças graduais e cumulativas têm o poder de produzirem grandes transformações ao longo do tempo : desconstruindo padrôes, a civilização ocidental moderna da hiper-mídia e do mega-consumo com seus shoppings caracterizados como ¨templos de adoração do mundo material¨ são agora donos de um poder sem precedentes no que diz respeito à corrupção de valores éticos , morais e religiosos. Não, evidentemente não estavam rezando. Estavam se divertindo, como desejam os administradores do shopping e os patrocinadores do evento.È claro que posicionei-os todos próximos ao pico da densidade normal no que diz respeito à média de váriáveis de comportamento que estavam exibindo, o que os caracterizavam como ¨normais¨ou ¨saudáveis¨, mas esperem, com relação à o quê ? Evidentemente não do ponto de vista de um camundongo. Do ponto de vista da própria curva do sino ? Afinal o que somos ? Somos o tempo e o lugar onde nascemos? Plastic Ono Band , de John e Yoko Ono, não tocavam jazz. Mas poderiam fazê-lo, se assim o permitisse as contingências de suas vidas . Passados trinta anos da morte de Lennon, que compôs God e Imagine ( citada por Dawkins ) , onde letra e música dizem muito à respeito de suas idéias. termino esta minha breve mensagem, porque não, lembrando o título de uma de suas últimas composições : Feliz natal para todos !!.