Artigo: “Inglourious primates”: grandes símios entre o objeto, o modelo e o outro do humano
por Beto Vianna e Rubén Gómez-Sorianno*
Artigo completo: vianna_gomezsoriano_rba2010.pdf

Resumo
A primatologia é uma disciplina desenvolvida, voltada para o estudo de uma só ordem zoológica. O grupo estudado faz jus ao nome Primata, “principal”, em deferência ao humano. Exatamente por seu membro ilustre, no entanto, os primatas não-humanos perdem como objetos de inquirição na razão direta de sua valorização como modelos de nossa espécie. Os grandes símios (gorilas, chimpanzés, bonobos e orangotangos) são um caso limite da atenção ao humano pelo caminho da primatologia. Nossos parentes mais próximos tornam-se o outro natural na definição de uma natureza humana, ou operadores antropológicos de identidade (Despret, 2006). No discurso e na prática científica, grandes símios podem ser, a um só tempo, símiles fisiológicos do humano e, cognitivamente, uma versão imperfeita de nós mesmos. Essa dupla condição traz implicações distintas segundo o quadro conceitual, as condições experimentais, o contexto sócio-histórico e as relações particulares estabelecidas entre o símio o observador humano em cada investigação. Neste trabalho, analisamos contextos experimentais e teóricos que oferecem distintas versões dos grandes símios, implicando versões correspondentes do humano. Uma maneira de repensarmos a agência dos seres vivos envolvidos e as relações co-constituintes entre grande simios e humanos, a partir do conceito de antropozoogênese (Despret, 2004b).
*Comunicação apresentada na 27ª Reunião Brasileira de Antropologia, evento da Associação Brasileira de Antropologia, Belém, 2010.