As Espécies Que o Homem Extinguiu

"Fala-se muito em espécies em extinção, mas muita gente acha que o homem extinguiu até agora relativamente poucas espécies, e que portanto nossa capacidade de extinguir espécies possa estar superestimada. . Apenas de 1600 para cá, foram comprovadamente extintas pelo homem pelo menos umas 120 espécies de aves, umas 60 de mamíferos e pelo menos 25 de répteis, entre muitas outras.(...) Além disso, já extinguimos mais de 600 espécies de plantas, e provavelmente vários milhares de invertebrados, que são mais mal conhecidos.(..) A lista continua crescendo. Isso tudo não inclui centenas de outras extinções de animais de grande porte causadas pelo homem muito antes da Idade Moderna."
Relatos de casos históricos sobre a extinção de espécies promovidas pela ação do homem pode ser encontrados no livro “A Gap in Nature”, de Tim Flannery e Peter Schouten, publicado em 2001. Mas na matéria do biólogo e professor Fernando Fernandez para o site "O Eco" ( da qual utilizei trechos para abrir esta postagem) intitulada Por que não existem pinguins no hemisfério norte? este tema é discutido a partir de exemplos emblemáticos de espécies animais que foram extintas deliberadamente pelo ser humano.
Esta matéria já foi postada integralmente no Evolucionismo por Eli Vieira em dezembro de 2008, mas dada a importância das considerações apresentadas resolvi voltar ao assunto. Voltemos ao exemplo dos pinguins do hemisfério norte.
"Todos nós aprendemos que pingüins são encontrados apenas no hemisfério sul, na Antártida e adjacências. Implicitamente, isso nos é passado como sendo um fato da natureza - como se sempre tivesse sido assim. Mas não é o caso. A resposta para a nossa questão é muito mais interessante que isso, e ao mesmo tempo desconcertante e perturbadora.
Não existem pingüins no hemisfério norte porque o homem os extinguiu em 1844", diz a matéria.
"A ave que foi originalmente chamada de pingüim é hoje conhecida – menos do que deveria ser - pelo nome de grande alca (“great auk”). Seu nome científico – Pinguinus impennis - foi baseado em seu primeiro nome vulgar. Os pingüins do hemisfério sul, aves pertencentes a outra família e descobertos depois, receberam o seu nome exatamente por que se assemelhavam às grandes alcas. As alcas eram aves de grande porte, que viviam no Atlântico norte, em volta do círculo polar ártico, e que eram caçadas em imensa quantidade entre os séculos XVI e XIX – enchiam os porões dos navios para servir de alimento, e também eram usadas como isca para a pesca de bacalhau e lagostas. Sob essa imensa pressão, as alcas declinaram inexoravelmente até uma situação desesperadora. Então, no dia 3 de junho de 1844, um grupo de marinheiros avistou o último casal de grandes alcas, denunciados por sua grande estatura em meio às aves marinhas menores, na pequena ilha de Eldey, ao largo da Islândia.
Os marinheiros correram para as grandes alcas com porretes. As alcas tentaram desesperadamente alcançar a segurança da água, mas uma foi encurralada contra as rochas, e outra alcançada já à beira d’água. Ambas foram mortas a porretadas. Em seu ninho havia um ovo, que se acredita ter sido esmagado sob a bota de um marinheiro.
É por isso que não existem (mais) pingüins no hemisfério norte. Não, não é um fato da natureza, infelizmente. Nós fizemos isso ser assim."
Fernando Fernandez nos conta também que havia um peixe-boi de oito metros, chamado de vaca marinha de Steller (Hydromadalis gigas), o qual foi extinto pelo homem em 1768. Um animal dócil, inteligente, com uma elaborada vida social. No mesmo texto Fernandez nos conta como se deu a extinção do tilacino e do morcego terrestre pelo homem. Diz ele:
" O tilacino ou lobo marsupial (Thylacinus cynocephalus ) é um espetacular exemplo do fenômeno que os biólogos chamam de convergência evolutiva, ou seja, animais de linhagens muito diferentes – no caso, os mamíferos placentários (como nós) e os marsupiais – evoluindo formas similares em lugares diferentes, como adaptação a papéis ecológicos similares. O tilacino, comum na Austrália inteira até uns poucos milhares de anos atrás, sobreviveu na grande ilha da Tasmânia, ao sul do continente australiano, até bem dentro do século XX. Porém, foi impiedosamente perseguido pelos colonizadores australianos, em represália à predação sobre suas ovelhas. A extinção do tilacino na natureza não teve nada de acidental, ao contrário, foi meticulosamente planejada, e levada a cabo como política oficial do governo da Tasmânia. Com o fim de erradicar a “praga”, recompensas foram pagas para cada pele de tilacino entregue. À medida que os animais começavam a escassear, o valor da recompensa foi aumentado cada vez mais. Em 1936, o governo da Tasmânia enfim mudou de política e decretou uma lei protegendo a espécie. Tarde demais. Naquele mesmo ano, o último tilacino conhecido, uma fêmea, morreu no zoológico de Hobart, capital da Tasmânia."
"Já os morcegos terrestres eram animais bizarros, que eram capazes de voar só uns poucos metros, mas que se moviam agilmente pelo chão da floresta nas patas de trás e nos cotocos das asas, exercendo o papel ecológico dos roedores. Eram tão bem adaptados à vida terrestre que alguns tinham bolsas ao lado do corpo onde recolhiam as asas. À medida que a colonização das ilhas do Pacífico avançava, animais introduzidos pelo homem, como ratos e gatos, foram extinguindo os morcegos terrestres em ilha após ilha. As ilhas Salomão e Big South Cape, que permaneceram livres de ratos domésticos até muito recentemente, foram seu último refúgio. Mas mesmo ali, os ratos chegaram em 1962 ou 1963, e em 1965 Mystacina robusta, a última espécie de morcegos terrestres, deixou de existir."
O dodô (Raphus cuculattus) é um dos exemplos mais conhecidos, um verdadeiro símbolo das extinções causadas pelo homem, diz Natalia Allenspach na página do seu blog "A Passarinhóloga":
"Parente próximo dos pombos, o dodô vivia em Maurício, uma ilha que fica a cerca de 800 km de distância de Madagascar, no Oceano Índico. Muito isolada e distante do continente, originalmente não haviam mamíferos nesta ilha. Praticamente sem predadores, os dodôs acabaram se tornando aves grandes e pesadonas, perdendo a capacidade de voar.
Como outros animais encontrados em ilhas isoladas e na ausência de predadores, estas aves agigantadas eram mansas e não tinham medo dos homens que ali começaram a aportar no começo do século XVI. Facilmente capturados, não demorou para que os dodôs entrassem para o cardápio dos marinheiros. Como se não bastasse, porcos e macacos que foram trazidos para a ilha rapidamente descobriram uma fonte fácil de alimento: ovos e filhotes de dodô.
Em um período de tempo muito curto, o dodô estava extinto. O último relato confiável de avistamento de um exemplar vivo foi feito por um holandês em 1662. Hoje tudo que sabemos sobre esta espécie se baseia em alguns poucos esqueletos guardados em museus, além de fontes históricas como documentos e gravuras feitos na época. Acredita-se que era cinzento, com um bico enorme e rosto desprovido de penas."
Em uma reportagem de 2005 também do site "O Eco", Juliana Tinoco entrevista o professor Dante Martins Teixeira, um dos diretores do Setor de Ornitologia do Museu Nacional da UFRJ (o qual tive a honra de conhecer pessoalmente) e autor da tese de doutorado "O Mito da Natureza Intocada" onde relata fatos históricos que foram determinante para a extinção de várias espécies, sobretudo no litoral nordestino durante o nosso período colonial. Diz o professor Dante Teixeira:
“Um estudo acadêmico sobre a distribuição dos elefantes no mundo vai afirmar que o animal só pode existir no leste da Índia e ao sul do Saara, pois tem como limite de expansão o deserto. Supomos fenômenos naturais onde na verdade houve ação do homem”.
“O professor volta às Guerras Púnicas — em que Roma lutava contra Cartago pela hegemonia na região do Mediterrâneo — para falar da distribuição dos elefantes sobre a Terra. Para surpreender o exército romano com um ataque por terra, Aníbal, o general cartaginês, valeu-se de uma enorme falange de elefantes de guerra, com a qual saiu da região onde hoje é a Tunísia e cruzou Espanha, França e os Alpes, antes de chegar ao norte da Itália.
Hoje sabe-se que existem apenas dois tipos de elefantes: os indianos, encontrados na região leste da Índia, e os africanos, que habitam a África sub-saariana. Cartago localizava-se no norte da África. “Como não existe disque-Paquiderme, de onde Aníbal conseguiu seus elefantes?”, pergunta o professor. “Alguns podem até ter atravessado o deserto para se unir à falange, mas a teoria mais possível é a de que existiram elefantes também no norte da África e na Ásia menor, que foram exterminados pelos romanos após a vitória, temendo que Cartago se reerguesse”.
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Para saber mais:
Flanery, T e P. Shouten. 2001. A gap in nature: Discovering the world's extinct animals, The Atlantic Monthly Press. 192 pp.
Vieira, E.2008. Por que não existem pinguins no hemisfério norte? Evolucionismo.org. 12/12/08
Tinoco, J. 2005. Era uma vez um Brasil. O Eco.13/10/2005
Allenspach, N. 2013. Aves extintas: Dodô (Raphus cucullatus). A Passarinhóloga 18/10/2012