Buracos negros, homo-sapiens e rock & roll.
Stephen Hawking está de volta à praça editorial com o seu ¨The Grand Design¨ Aguardo ansiosamente a edição brasileira sem erros de tradução como na primeira edição de ¨Uma Breve História do Tempo ¨.Em co-autoria com o matemático Ellis, Hawking produziu nos anos 70 um trabalho de grande importância para a física da gravitação ( Relatividade Generalizada, de Einstein ) ao demonstrar no seu ¨The Large Scale Struture of Space-Time¨ ( Cambridge, 1973 ) a inevitabilidade das chamadas ¨singularidades¨ no colapso de estrelas massivas no estágio final de seus ciclos de vida ( formação de buracos-negros ) onde até então especulava-se que essas singularidades seriam consequências teóricas sòmente das soluções com alto grau de simetria das equações de campo de Einstein. Hawking e Ellis mostraram, através de deduções puramente matemáticas, que essa condição não é necessária, assumindo uma série de outras hipóteses e demonstrando que conduziam aos mesmos resultados.Passaram-se mais de trinta anos e hoje podemos ver nas magníficas imagens do Hubble a atividade diferenciada de matéria-energia no centro das grandes galáxias e fenômenos que indiretamente indicam a atividade de um buraco-negro como, por exemplo, o jato de gás emitido pelo núcleo da incrível galáxia elíptica gigante M87, com 1 trilhão de estrelas ou mais. Nesse trabalho são estudados também aspectos relacionados à chamada ¨singularidade inicial ¨, popularmente mais conhecida como o ¨Big Bang¨, que teria dado origem ao espaço-tempo na forma como o conhecemos. As informações de que disponho até o momento é de que Hawking está vindo ao público em seu novo livro com uma versão moderma do ¨ Sir, je n´ai pas eu besoin de cette hypothèse-lá ¨, resposta de Laplace à Napoleão quando, ao presenteá-lo com sua obra máxima, este observou que Deus não fora mencionado em nenhum dos cinco volumes do seu monumental ¨Mecânica Celeste¨. Em The Large Scale... os ingleses fazem uso também de conceitos introduzidos pelo físico-matemático Roger Penrose, que chegou à especular que gravitação e auto-consciência estão intimamente relacionadas. À propósito do Big Bang, é instrutivo aqui destacar um episódio no mínimo surpreendente da vida do físico americano Richard Feynman. Certa vez, um rabino perguntou à este : ¨ Você realmente acredita na teoria do Big Bang ?¨. Feynman respondeu ao rabino : ¨Eu não acredito em nada !! ¨ ( possíveis interpretações aqui ficarão ao cargo do leitor...).Retornando ao Hawking, comento a seguir suas recomendações ou conselhos bem intencionados ( não, não é pleonasmo...) para que o homo-sapiens faça jus à sua designação técnica se quiser ter uma perspectiva à longo prazo de sua existência enquanto espécie. Estaria Hawking manipulando mentalmente suas equações envolvendo distribuições de probabilidades e chegando à estarrecedora conclusão de que já estaríamos não muito longe do fim, ou seja, à beira da extinção ?. Hawking menciona o terrível poder de destruição da tecnologia atual e daquelas que ainda possivelmente estarão ao nosso alcance nos próximos duzentos anos, o que aliás já era motivo de especulações e preocupações de Carl Sagan em seu devido tempo.Esse é o problema do crescimento exponencial : mal começamos e já estamos às voltas com nosso próprio destino ! Sonhos de ambos à parte, como por exemplo estabelecer descendência em outros lugares do universo, termino minha breve mensagem observando que Stephen Hawking, o da criação expontânea do mundo, Roger Penrose, o da origem gravitacional da consciência, Richard Feynman, o cético dos céticos, e Carl Sagan, o amante eterno da natureza e suas produções, assim como muitos outros, ( Dawkins e Jay Gould, por exemplo ) foram todos contemporâneos à época do rock progressista de minha juventude que produziu uma geração de intelectuais engajada e distante ainda do mundo virtual que nos é apresentado agora como uma nova classe de deuses de fato e que me parece definitivamente estabelecido.Contradição, eu sei. Nós sabemos.E espero sinceramente que as previsões de Hawking, como de tantos outros..., não se realizem.