Evolução, Gripe Suína e Ética
Há algum tempo em meu Blog [1] e em sites que participo [2], venho trazendo alguns alertas relacionados com questões éticas na área de ciência, pontuando que a ciência, considerada como um método de aquisição de conhecimento seguro, embora tenha um imbricamento com a questão do fazer prático e da tecnologia, não poderia ser responsabilizada pelo mau uso daquilo que traz.
Isso tem provocado reações tanto de cientificistas quanto dos detratores das ciências. Uns pregam um purismo no fazer ciência que fica difícil vê-lo numa sociedade cuja ética de seu sistema econômico se apropria de tudo para o transformar em mercadoria e lucro. Outros pregam um total imbricamento entre o sistema e o fazer ciência, dizendo que a ciência como conhecemos hoje só é o que é por causa dos interesses do sistema por traz dela e todo fenômeno social humano atual.

A ciência é um fenômeno histórico e tem em sua ocorrência um sujeito histórico que a faz; disso não podemos duvidar. Que exista um imbricamento entre a forma como ela é feita e o sistema econômico que historicamente a insere como fenômeno humano, também não temos como questionar. No entanto, tanto a ciência enquanto fenômeno humano histórico, quanto os homens que a faz ao longo dos tempos, pouco ou nada tiveram a ver com uma motivação direcionada ao atendimento das necessidades de mercado dos agentes econômicos individuais que compõem o sistema como um todo e é sua mola propulsora.
O fazer ciências está imbricado com motivações individuais e sociais cujo desdobramento sempre esteve em voltas da solução de nossos problemas de sobrevivência num mundo inóspito, mas que pode ser conhecido. O direcionamento dessas motivações, justificáveis por si mesmas, para questões de classe e exploração econômica para o enriquecimento de alguns se constitui numa questão ética não só pelo uso exploratório de algo que é de todos e que pode nos ajudar a viver melhor, como também por uma questão de um uso irresponsável que pode nos levar todos à extinção ou a situações catastróficas.
Tapar o sol com a peneira dizendo que os cientistas não tem nada a ver com isso e querer que a ciência, enquanto fenômeno histórico, não possua imbricamento com o sistema que a financia e a faz avançar, é apenas olhar para outro lado e não se responsabilizar pela própria história da qual faz parte. Por outro lado, demonizar a ciência como responsável direta por esse tipo de coisa é leviano e superficial. É preciso desenvolver uma visão crítica mais ampla acima de partidarismos, procurando uma coerência dialética.
Contextualizando a questão
A questão de fundo nessa introdução que faço, diz respeito à uma má aplicação de um conhecimento científico consolidado, amplamente corroborado e que nos abriu e abre constantemente visões importantíssimas sobre a natureza dos seres vivos e do próprio homem: A TEORIA DA EVOLUÇÃO DE DARWIN.
O conhecimento insuficiente ou não preditivo dos mecanismos da Seleção Natural de Darwin-Wallace nas mãos do interesse econômico irresponsável ou mesmo de políticas governamentais irrefletidas ou mesmo populistas, sem interferência ou ampla discussão promovida pela comunidade científica, estão fazendo com que se acelere situações de riscos cujos resultados são imprevisíveis mas extremamente preocupantes.
Afora essas questões, acaba de sair na Veja desse domingo uma reportagem que dá conta que 60% dos brasileiros tem o mau hábito da automedicação. Falta de informação e um “deixa pra lá” de cientistas que deveriam se dedicar a um aspecto educacional da ciência frente ao senso-comum repleto de crendices infundadas, engrossam um caldo de acriticidade que preocupa qualquer olhar mais atento.
A questão gira em torno de três situações exemplares que menciono e venho reforçando em meus escritos:
1 – Vacinação em massa contra gripe;
2 – Uso irrestrito e incentivado de bactericidas em enxaguantes bucais e produtos de limpeza;
3 – Produção e criação em escala de animais para abate e consumo.
Indo aos Pontos
E como essas situações podem nos preocupar e em que medida elas se circunscrevem no mau uso e em conhecimento insuficiente da Seleção Natural de Darwin-Wallace?
O vírus influenza a cada ano desenvolve novas cepas e evolui franco e direcionado para que seja cada vez mais nocivo, mais mutante e mais resistente aos nossos tratamentos. Qual a relação causa-efeito dessa questão? Podemos ser simplistas e ficar com uma versão senso-comum de que existe um plano de punição ou uma teleologia na evolução do vírus com algum propósito pronto para que uma autoridade o interprete e nos oriente, como sempre foi. Ou podemos usar o próprio conhecimento da Teoria científica que está por traz das infrutíferas tentativas de controla-lo e entender que a própria não-direcionalidade da adaptação nos confere uma imprevisibilidade que talvez seja melhor (até que tenhamos condições de eliminar a aleatoriedade implícita do sistema) deixar as coisas seguirem suas próprias contingências, sem tantas interferências irresponsáveis.
Cada vez que vamos nos vacinar na campanha em massa contra a gripe promovida pela OMS, são inoculados em nós vírus desativados que precipitam nossos anticorpos para a produção de antígenos que combatem as cepas mapeadas no ano anterior pelos GROGs. [3]

Quem está familiarizado com o mecanismo lógico, estatístico e científico da Seleção Natural sabe que em nichos ecológicos que gozam de certo equilíbrio pontuado, uma população mantém estável sua variabilidade gênica, como se esperasse uma mudança no ambiente para oferecer a melhor alternativa de expressividade a ser desenvolvida e predominar. Sabe também que ambientes instáveis coincidem com uma taxa de mutação maior, havendo relação contingenciais intrínsecas. Não vamos especular se o aumento da taxa mutacional é uma resposta de um pool genético a um ambiente instável, como isso pode nos levar a crer, mas pontuamos a concomitância desses fatos como parte do argumento.
Isto posto, não é difícil concluir que a cada ano os GROGs fornecem à OMS dados que a faz desenvolver vacinas que adaptam artificialmente o corpo humano às variações naturais do Influenza, podendo provocar uma taxa de mutação maior no vírus. Isso, aliado à eliminação de cepas menos resistentes, proporciona um ambiente propício para a livre proliferação das cepas mais resistências, que crescem não só em número, quanto em formas alternativas cada vez mais nocivas esperando o ambiente certo para agir com toda a sua potencialidade.
Conclusão I: a OMS e o governo (possivelmente na melhor das intenções), estão nos transformando em criadouros artificiais de vírus cada vez mais resistentes e potencialmente nocivos a nós mesmos.
Concomitante a isso a indústria de higiene promove a consolidação de uma cultura do “clean” e da assepsia cada vez mais intensa no senso-comum, quase que nos obrigando a assumir posturas de consumo que promova a mesma coisa que a vacinação em massa pode provocar.
Cada vez que usamos um enxaguante bucal ou um sabonete protetor com o princípio ativo do triclosan, eliminamos uma série de bactérias inofensivas e abrimos caminho para as mais poderosas e nocivas proliferarem à vontade, pois a dose usada não as atinge. Limpa? Sim, limpa. Mas não naturalmente.

Propagandas e campanhas publicitárias milionárias passam a imagem que esses produtos realmente protegem, mas não mencionam o risco em seu mau uso nem tampouco nos alerta sobre nada que possa comprometer sua sede de venda crescente. Recentemente contrataram os Caçadores de Mitos, que se tornaram populares por aplicar o conhecimento científico para derrubar mitos e lendas urbanas no canal pago Discovery Chanel. A Listerine Brasil se manifesta sobre a escolha nos seguintes termos:
“Nosso objetivo com a campanha é principalmente educar o consumidor em relação à importância do uso de Listerine na rotina diária de higiene oral. Além disso, escolhemos os ”Caçadores de Mitos” porque eles conseguem transmitir credibilidade, humor e irreverência e esses valores estão alinhados à identidade da marca” [4]
E a ciência não se manifesta. Assistimos a nós mesmos sendo convencidos a nos transformar em criadouros de superbactérias e supervírus que, não demoram, tomarão as rédeas e destino de nossas próprias vidas.
Conclusão II: estamos sendo treinados pela cultura representada pelo capital a sistematicamente assumirmos práticas que nos transformam em criadouros artificiais de vírus e bactérias cada vez mais fortes, resistentes e com potencial destrutivo de forma imprevisível.
Por fim, a indústria de alimento, mais precisamente da criação e abate de gado em escala industrial, levando em consideração o que já foi dito, faz com que pensemos em qual escala eles usam o conhecimento científico de forma insuficiente e conspurcado pelo interesse econômico para oferecer um risco crescente e alarmante em direção a problemas que podem fugir completamente do controle humano.
Raciocinemos juntos. Se o efeito das vacinas aplicadas em nós na legítima intenção de nos proteger pode estar nos causando danos irreparáveis e, sobretudo, se a indústria e seu interesse associa a imagem científica a produtos dos quais seu mau uso pode também nos causar (e nos causa) danos irreparáveis e imprevisíveis, inclusive prestando franca desinformação ou mesmo nos iludindo para vender cada vez mais, o que poderíamos esperar da indústria de criação e abate de carne? Simples: Gripe Aviária e Gripe Suína [5].
Longe de ser uma teoria da conspiração em que a malvada indústria ou o governo (ou ambos em conluio) pretendam matar aqueles que os sustentam ao consumir o que produz, parece-me ser apenas a reprodução de uma lógica intrínseca à própria dinâmica do capitalismo enquanto sistema globalizado e ético que determina as relações entre os agentes que o compõe.
Não é difícil de perceber os efeitos possíveis da aplicação maciça de remédios e vacinações com o intuito de promover uma carne extremamente saudável e própria para o consumo de uma sociedade cada vez mais preocupada com assepsia ideológica, mas que esconde suas próprias mazelas e falta de autonomia.

A ação, alastramento e a capacidade mutacional do vírus da Gripe Suína, por mais assustador que se coloque à nossa percepção, é facilmente explicável pela Teoria da Evolução e da Seleção Natural. Esse vírus, possivelmente, plausivelmente e com extrema verossimilhança (por mais redundante que pareça), está sendo selecionado sistematicamente, evolutivamente e artificialmente ao longo do tempo através de práticas sucessivas de vacinação e controle de doenças.
O detalhe mais cruel nessa constatação é que todos nós esperamos e torcemos para que seja assim. Instituímos vigilâncias sanitárias que fiscalizam e garantem que seja exatamente assim. Não tem como esperar que seja diferente do que é, pois uma indústria que confina seres vivos em espaços exíguos e totalmente diferentes de seus habitats, precisa fazer de tudo e mais um pouco para garantir nossas neuroses e ilusões de estarmos nos alimentando com o melhor do que pode ser oferecido.
Porém, essa indústria que faz exatamente o que esperamos dela, para cumprir nossas próprias exigências, estimula essas criaturas a produzirem em seus anticorpos, artificialmente e em tempo recorde, toda a sorte de antígenos para as mais diversas cepas de vírus e bactérias, selecionando automaticamente os mais vigorosos, destrutivos e com potencial mutacional para proliferam e receberem o melhor acabamento existencial possível em sua eficácia.
Não me parece necessário extrair disso tudo uma terceira conclusão, porém dois pensamentos parecem se impor para que reflitamos. Por que a comunidade científica, na constatação de um uso equivocado de um conhecimento científico não vem a público promover um amplo debate sobre as práticas que o senso-comum toma como normais e que podem estar nos levando todos à extinção? Por que acusam, levianamente, a ciência de promover esse estado geral das coisas e esquecem-se da ética capitalista que está por traz do mau uso do conhecimento científico obrigando a própria comunidade científica a não se posicionar eticamente sobre isso?
Talvez seja hora de pensarmos sobre nosso próprios estilo de vida industrial e dimensionarmos até que ponto nós mesmos somos responsáveis por aquilo que acontece quando nos alienamos e deixamos as estruturas e instituições formais nos tutelarem, abrindo mão de nossa autonomia e liberdade em decidirmos nossos próprios destinos.
Notas:
[1] – Poderão ler uma reflexão sobre isso nos seguintes artigos do Blog Filosofando na Penumbra:
Faca, Gumes e Reflexões sobre a Cegueira
O Saber Científico e a Gripe Suína
[2] – Sites Reflexus, Nexum, Amplexus e Portal Philosophia
[3] – Para saber mais sobre vacinação, além do site da OMS, consulte: Vacina.
[4] – Palavras de Eduardo Siqueira, gerente de Listerine Brasil, no site Alept.com
[5] – Leia as perguntas e respostas na Veja: Gripe Suína: Entenda como a Epidemia Começou