Filhinhos da mamãe
Um dos enigmas de biologia evolutiva é a menopausa, isto e, o fato das fêmeas de certos grupos de mamíferos, mesmo após o final de seu período reprodutivo, ainda poderem viver por longos período adicionais. Além de nós, seres humanos, as orcas (Orcinus orca) estão entre os mamíferos em que este período é mais prolongado, com as fêmeas parando de se reproduzir por volta dos 30 anos mas podendo chegar aos 90. É difícil explicar um duração da vida tão extensa após o período reprodutivo apenas pensando em benefícios reprodutivos diretos, portanto nestes casos do ponto de vista evolutivo esta fenômeno deve surgir como um efeito colateral fisiológico de longevidade aumentada ou de outros tipos de benefícios a indivíduos aparentados, isto é, aumentando a ’aptidão inclusiva’, isto é indireta, lembrando que familiares compartilham genes e portanto as características fenotípcas que a eles estão associadas. Assim, várias hipóteses seguindo este tipo de perspectiva têm sido propostas e que tentam dar conta deste padrão, inclusive a conhecida hipótese da avó que propõem que a permanência de fêmeas pós-menopausa ajudariam nas chances de sobrevivência dos seus netos, aumentando o sucesso indireto reprodutivo dessas fêmeas (sua aptidão inclusiva) ao garantir a maior sobrevivência e o sucesso reprodutivo da sua descendência. Porém, este não parece ser o caso das Orcas. As orcas são animais bem interessantes que vivem em grupos sociais incomuns, com filhos e filhas permanecendo com suas mães em um único grupo ao longo de toda suas vidas.
Em um estudo recente publicado na revista Science, em 14 de setembro deste ano, pesquisadores das Universidade de Exeter e York, na Inglaterra, do Center for Whale Research, nos EUA, e da Pacific Biological Station, no Canadá, analisaram registros de duração de vida, que cobriam 36 anos, de duas população de Orcas, que viviam no pacifico norte das costas do Canadá e EUA, e constaram que a presença de uma fêmea que já não estava mais se reproduzindo aumentava significativamente a sobrevivência de sua prole mais velha. No caso de machos com mais de 30 anos de idade, a morte de sua mãe significa um aumento de 14 vezes na chance de sua morte dentro de um ano. Apesar das fêmeas também permanecerem no grupo de sua mãe, para as fêmeas filhas da mesma idade, diferença é de apenas três vezes na chance de morte, sendo que para fêmeas com idade inferior a 30, a morte de suas mães não tem qualquer efeito sobre as taxas de sobrevivência.
A teoria prevê que, a fim de ter a melhor chance de espalhar seus genes (uma outra forma de pensar na aptidão inclusiva), sem carregar um fardo adicional, as mães devem concentrar seus esforços em seus filhos. Isso seria assim por que enquanto o acasalamento das filhas tem como consequência que sua prole seja cuidada pelo próprio grupo em que estão suas mães, quando os machos filhos acasalam, a prole resultante é cuidada pelas fêmeas dos outros grupos, diminuindo o investimento das fêmeas pós-menopausa como avós.
Veja mais detalhes nos materiais de divulgação fornecidos no site da Universidade d Exeter.
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A foto no começo do artigo mostra Orcas de uma população residente que vivem ao Sul, nas águas ao redor da ilhas de San Juan, EUA e British Columbia. No caso são mostrados uma mãe e seu filho adulto. Os machos adultos são facilmente distinguíveis das fêmeas por suas nadadeiras dorsais consideravelmente maiores. (Crédito: David Ellifrit do Centro de Investigação de Baleias)
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Literatura Recomendada:
Foster, Emma A., Franks, Daniel W., Mazzi, Sonia, Darden, Safi K., Balcomb, Ken C., Ford, John K. B. and Croft, Darren P. Adaptive Prolonged Postreproductive Life Span in Killer Whales. Science, 2012; 337 (6100): 1313 DOI: 10.1126/science.1224198