Monday July 29, 2013
<a href="https://h4wrt.tumblr.com/" style="text-decoration:underline;">h4wrt</a>: O que a calvice parcial masculina (aquela que começa nas laterais da frente e segue pro meio) tem de vatajoso pra espécie humana? e a calvice traseira?
Talvez nada. Este é um ponto que deve ser enfatizado. Nem toda a característica fenotípica precisa trazer qualquer vantagem específica, ou seja, nem toda a característica é uma adaptação evolutiva, no sentido de ser um produto da seleção natural para uma determinada função que ela exerça e que tenham colaborado para o aumento do sucesso reprodutivo dos indivíduos que a manifestavam. O primeiro ponto é que, além da seleção natural, processos estocásticos como a deriva genética e o efeito carona podem fixar variantes genéticas e, eventualmente, algumas características fenotípicas neutras ou mesmo ligeiramente deletérias em uma população. O segundo ponto é que algumas das características fenotípicas que chamam nossa atenção não ‘características naturais’, ou seja, não correspondem a módulos de desenvolvimento semi-autônomos e geneticamente mais bem delimitados, isto é, seriam componentes secundários ou mesmo meros subprodutos da organização e arranjo estrutural de outras características fenotípicas, estas sim, que poderiam ser adaptativas.
Em resumo, muitas características nos seres vivos não são necessariamente produtos diretos da seleção natural em virtude de vantagens em termos de longevidade e sucesso reprodutivo que elas possam oferecer em certos contextos ecológicos e demográficos.
Feitas estas ressalvas, alguns cientistas, entretanto, realmente especulam que a calvície humana de modo geral possa ter evoluído em nossa espécie com parte de um processo de seleção sexual, talvez, como uma forma de sinalização para o status social ou longevidade, mesmo que esta mesma característica esteja associada com uma percepção de menos atratividade por parte dos outros indivíduos principalmente por parte das fêmeas). Outros pesquisadores defendem, em franco contraste, que, pelo contrário a calvície estaria associada a uma percepção de maior dominância e agressividade. Outros ainda, ainda mais especulativamente, argumentam que a maior área da cabeça exposta ao sol nos calvos poderia contribuir para o aumento da produção de vitamina D, o que ajudaria a prevenir o câncer, sendo esta a vantagem da calvície. O problema é que esta hipóteses e os estudos que supostamente as apoiam são, na melhor das hipóteses, correlacionais e não fornecem evidências minimante convincentes para estas hipóteses adaptacionistas.
Acontece que, mesmo a calvície masculina humana tendo uma inegável base genética, a prevalência dos alelos associados a esta característica em nossa população não precisa ser um indicativo de que ela seja uma característica adaptativa e que, desta maneira, tenha se disseminado na população humana em virtude da seleção natural. O fato da maioria dos homens tornarem-se calvos depois do 30, na verdade, sugere que, até há bem pouco tempo atrás, ela teria tido muito pouco impacto em termos de sobrevivência e sucesso reprodutivo nos seres humanos, mesmo em um contexto de seleção sexual. Isso seria assim por que a expectativa média de vida ao nascer não deveria ter passado muito disso durante grandes períodos da história e, principalmente, pré-história humana. Isto é, como ela seria prevalente bem após o auge reprodutivo humano durante boa parte de nossa história evolutiva, provavelmente, ela, como característica fenotípica, teria sido invisível a seleção natural. Porém, como os genes envolvidos com esta condição podem estar ligados a vários outros processos fisiológicos, os alelos associados a calvície poderiam ter se disseminado por causa de efeitos benéficos deles que não tinham nada a ver diretamente com a perda de cabelos.
Outra possibilidade é que estes alelos poderiam ter se disseminado na população humana (ou mesmo terem sido fixados nela), simplesmente, ao ‘pegar carona’ em outros alelos de outros loci (fisicamente muito próximos) que conferiam, eles sim, vantagens adaptativas não relacionadas a calvície. Por fim, a prevalência destes alelos poderia ser explicada, simplesmente, por causa do efeito da deriva genética associados aos gargalos de garrafa, pelos quais as populações humanas passaram na última centena de milhares de anos, que teriam amostrado ao acaso os indivíduos que portavam estes alelos e que, ao se expandirem, espalharam-nos pelas populações humanas mais modernas. Veja o link da wikipedia sobre o assunto e também as respostas da época do formspring evolucionismo aqui, aqui e aqui sobre este tema.
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Literatura Recomendada
Muscarella, Frank; Cunningham, Mark (1992). “The evolutionary significance and social perception of male pattern baldness and facial hair”. Ethology and Sociobiology (Elsevier Inc.) 17 (2): 99–117. Retrieved Dec 16, 2012.
Dunn, Robb (2012). “Why haven’t bald men gone extinct?”. New Scientist (NewScientist.com) 2869. Retrieved Dec 16, 2012.
Kabai, P. (2010). “Might early baldness protect from prostate cancer by increasing skin exposure to ultraviolet radiation?“. Cancer Epidemiology 34 (4): 507. doi:10.1016/j.canep.2010.04.014
Creditos das Figuras:
HANS-ULRICH OSTERWALDER/SCIENCE PHOTO LIBRARY
DR P. MARAZZI/SCIENCE PHOTO LIBRARY
Grande abraço,
Rodrigo