Monday May 23, 2011
Anonymous: O que seria um Spandrel?
O termo ‘Spandrel’ ('tímpano’) é como Richard Lewontin e Stephen Jay Gould chamaram as estruturas ou características dos seres vivos que, mesmo exibindo alguma função, teriam surgido, originalmente, como meros subprodutos dos processos desenvolvimentais (por exemplo, epigenéticos e embriológicos) que estão por trás da produção de um outro fenótipo, este sim, possivelmente, selecionado por causa de seus efeitos na capacidade de sobrevivência e reprodução do organismo. Seriam, desta maneira, conseqüências secundárias da evolução de outras características por seleção natural ou a deriva genética.
O termo se refere às áreas curvas entre os arcos que dão suporte a uma cúpula, surgindo como conseqüência de decisões sobre a forma dos arcos e a base da cúpula (que alguns dizem são melhor descritas como “pendentativos”), e, portanto, não sendo concebidos, desde o início, para o fim de decoração artística, apesar de comumente serem usados para tanto ao receberem sofisticados adornos [Spandrel]. Estas “estruturas” são encontradas em catedrais renascentistas na Europa, como a basílica de São Marco. Daí o título do artigo original em que este conceito foi apresentado.
Em seres multicelulares, o próprio desenvolvimento ontogenético é um processo em que estruturas se originam de outras anteriormente formadas através da interação dos genes, do ambiente e do estado prévio do sistema em desenvolvimento, isto é o organismo. Isso implica em certas restrições no jeito em que as características podem surgir. Em parte, esta situação pode ser explicada pelo fato de muitos dos genes - associados a ’[auto]construção’ de certas características fenotípicas - interagirem com uma gama de outros genes (epistasia) ou participarem em outras fases do desenvolvimento, bem como na origem de outras estruturas, órgão e sistemas (pleiotropia).
Este imbricamento genético-desenvolvimental, a interação entre células e tecidos que surgem a partir deste processo e as restrições advindas das próprias propriedades fisicas dos materiais e da geometria das estruturas que vão se formando, bem como das forças mecânicas que surgem daí, podem gerar os tais subprodutos a caminho de gerarem o produto 'principal’.
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Links recomendados:
http://en.wikipedia.org/wiki/Spandrel
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pleiotropia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Epistasia
Referência recomendada:
Stephen Jay Gould and Richard C. Lewontin. “The Spandrels of San Marco and the Panglossian Paradigm: A Critique of the Adaptationist Programme” Proc. Roy. Soc. London B 205 (1979) pp. 581-598
Abraços,
Rodrigo