Ossos do ofício 460 milhões de anos atrás
Novo indício altera a data de origem do equilíbrio que mantém nossos ossos
Os nossos ossos parecem bem sólidos e permanentes, mas essa não é a história completa. Eles são mantidos por um equilíbrio fino entre os osteoblastos, células que fazem o osso, e os osteoclastos, que o desfazem. Um terceiro tipo de células, os osteócitos, coordenam essa dança de Shiva da criação e destruição.
Esse equilíbrio dinâmico é salutar para o crescimento das crianças e a recuperação de ossos após lesões, luxações e quebras. Os hormônios sexuais influenciam nesse equilíbrio, é por isso que após a menopausa as mulheres ficam com risco de osteoporose.
Há quanto tempo nossos ancestrais fazem isso? Um novo estudo de Yara Haridy, bióloga evolutiva da Universidade de Chicago, aumentou a idade da remodelagem dos ossos em cem milhões de anos, datando seu aparecimento a no mínimo 460 milhões de anos atrás. Ela pegou escamas ósseas de um peixe sem mandíbula que viveu no Ordoviciano, do gênero Astraspis, e usou uma técnica de raio X de um acelerador de partículas sobre elas.
Esse bicho tinha osso não só nas escamas, mas também por cima de sua cartilagem, que era antes o único tipo de sustentação do esqueleto de seus parentes (ainda é o caso com tubarões, raias e quimeras, são peixes cartilaginosos). Nesses ossículos, a pesquisadora observou “ósteons”, que são sinais inequívocos da atividade de remodelagem de osteoblastos e osteoclastos. Só não viu sinal de osteócitos.
Como todo fóssil, não é possível afirmar que o Astraspis é nosso ancestral direto, só que é nosso parente porque compartilha conosco características como a descoberta. É uma questão da probabilidade: mesmo que os “ósteons” tenham surgido várias vezes na evolução, não sendo suficientes para estabelecer o parentesco, o peixe, que parece um girino coberto por uma carapaça, só pode ser nosso parente em algum nível pelo “conjunto da obra”.