Por que Darwin ignorou a promiscuidade feminina?
por John Travis, no blog "Origins" da revista Science.
Nesta semana, no Times Higher Education, Tim Birkhead, um ecólogo comportamental da Universidade de Sheffield no Reino Unido, reflete sobre as razões de Darwin ter falhado em reconhecer a importância da promiscuidade feminina entre os animais e da competição espermática, que é um fenômeno relacionado. Em seu ensaio intitulado "Sexo e Sensibilidade", Birkhead escreve:
Se Darwin tivesse somado dois mais dois, o estudo da competição espermática - agora uma importante área de pesquisa - poderia ter sido lançado em 1870 em vez de 1970. Por que Darwin ignorou a evidência e por que foi preciso um século para outros fazerem a conexão?
Birkhead se pergunta se Darwin foi apenas um pudico vitoriano ou se ter uma filha editando os seus escritos levou a alguma censura. Birkhead não dá uma resposta satisfatória, mas de fato oferece alguns pensamentos sobre o impacto da oportunidade perdida por Darwin:
O desfecho disso tudo foi que Darwin se esquivou da promiscuidade das fêmeas e pôs um pé firme sobre a monogamia feminina, uma ideia que então se fixou firmemente, ao menos nas mentes dos biólogos, por todo um século. A significância da promiscuidade feminina só se tornou de fato aparente no começo dos anos 1970, quando foi percebido que a seleção natural operava sobre indivíduos em vez de grupos ou populações. (...)
Eu não acho que Darwin pensou bem nesse assunto. Não acho que ele alguma hora tenha pensado cuidadosamente o bastante sobre as consequências reprodutivas da seleção dos indivíduos. Até onde vejo, não há nenhuma alusão a esse tipo de pensamento em sua correspondência volumosa. Isso é curioso, porque a ideia da escolha da fêmea era uma parte tão integral (embora controversa) de seu conceito de seleção sexual. Para Darwin, a escolha do parceiro simplesmente parava na cópula.