Riso revela parentesco entre homem e macacos

Cócegas em grandes símios e em humanos produzem risadas similares que refletem os laços entre estas espécies.
por Lucas Laursen, em Nature News, 4 de junho de 2009.
O riso humano está enraizado em exibições [displays] emocionais do ancestral comum que compartilhamos com os grandes símios, sugere uma análise das vocalizações produzidas por cócegas em indivíduos juvenis de símios e humanos. A fala humana é única entre os animais, mas os pesquisadores têm discutido há tempos sobre como nosso riso pode se relacionar a outras vocalizações similares feitas por outros primatas. Cientistas como Charles Darwin e Dian Fossey, autora de Gorillas in the Mist ("Gorilas na Bruma"), compararam o riso de primatas não-humanos ao riso dos humanos, e encontraram similaridades mas também importantes diferenças. Os chimpanzés emitem uma risada mais resfolegante, por exemplo, enquanto os humanos geralmente usam suas vozes para rir ao expirar. Uma equipe liderada pela psicóloga Marina Davila Ross, da Univesridade de Portsmouth, Reino Unido, encarregou-se da tarefa de fazer cócegas em 25 jovens macacos e humanos, e gravou as risadas resultantes (assista ao vídeo). Eles relatam nesta semana, na revista científica Current Biology, que as similaridades acústicas entre as risadas de cada espécie refletem aproximadamente nosso parentesco genético.¹
Problema engraçado
O estudo traz a última palavra em análise acústica de estúdio ao problema, e ajuda a esclarecer como o riso e a produção vocal dos grandes símios evoluíram, diz o psicólogo Robert Provine, da Universidade de Maryland no Condado de Baltimore, que não esteve envolvido no trabalho.
"O riso é importante para estudo porque é uma parte universal da linguagem humana e uma ferramenta para estudar a evolução vocal", acrescenta Provine.
Davila Ross e seus colaboradores fizeram cócegas num total de 21 jovens orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos, e também em um siamang e em três crianças humanas. O riso foi quantificado de acordo com 11 variáveis acústicas, incluindo a duração e tom das vocalizações, o tempo entre elas, e se os animais estavam inspirando ou expirando enquanto vocalizavam.
"Particularmente o gorila e o bonobo puderam produzir sons [similares aos humanos] enquanto expiravam por mais de 10 segundos", diz Davila Ross. O riso menos aparentado do orangotango e do siamang, por sua vez, foi correspondentemente distinto.
Os pesquisadores surpreenderam-se quando descobriram que algumas risadas dos símios duravam mais que um ciclo respiratório, diz Davila Ross. O achado contradiz uma explicação para o porquê de o riso e a produção vocal humanos diferirem tanto dos emitidos pelos símios, isto é, que primatas não-humanos, que andam com os quatro membros, respirariam em sincronia com sua marcha, enquanto os humanos que são bípedes respirariam independentemente de seus passos.
Davila Ross espera que abordagens filogenéticas como esta sejam usadas em estudos futuros sobre a evolução das vocalizações. "Estou interessada em aprender mais sobre como essas vocalizações estão sendo usadas nos jogos sociais", diz.
"Eles estão descobrindo evidências de expressão vocal nos chimpanzés e mais liberdade de produção de som em grandes símios", Provine acrescenta. "Eu vejo como um acréscimo amigável para as evidências existentes."
Referência
1. Davila Ross, M., Owren, M. J. & Zimmermann, E. Curr. Biol. doi:10.1016/j.cub.2009.05.028 (2009).
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"Se cócegas são feitas a um jovem chimpanzé - e as axilas são particularmente sensíveis às cócegas, como no caso de nossas crianças, - uma risadela mais nítida 0u uma gargalhada é emitida; embora o riso seja às vezes sem ruído. Os cantos da boca são então impelidos para trás; e isso algumas vezes causa um leve enrugamento nas pálpebras inferiores. Mas este enrugamento, que é tão característico de nosso próprio riso, é mais claramente visto em alguns outros macacos. Os dentes do maxilar superior no chimpanzé são expostos quando eles fazem seu barulho de risada, a respeito do qual diferem de nós. Mas seus olhos cintilam e brilham com mais intensidade, como relata o sr. W. L. Martin, que particularmente observou sua expressão."
Charles Darwin. "A expressão das emoções no homem e nos animais", 1872. [A imagem ao lado consta nesta publicação de Darwin.]