Saturday June 08, 2013
<a href="https://onlyaanotherguy.tumblr.com/" style="text-decoration:underline;">onlyaanotherguy</a>: Como surgiu o amor e a maldade no ser humano? E por que somos tão tendenciosos a fazer as piores escolhas?
Estas não são perguntas fáceis e acabam por sobrepor-se ao terreno da ética, mas aquilo que poderíamos chamar de ‘maldade’ - caso a compreendamos como trazer sofrimento aos outros de forma deliberada e gratuita, apenas pelo prazer de fazê-lo ou como meio de chegar a certos fins - deve remontar a evolução de nossas capacidades metacognitivas, pois só possuindo alguma capacidade de refletir sobre as consequências de nossos atos de maneira clara é que poderíamos considerá-los como formas de ‘maldade’. Contudo esta capacidade ancora-se em habilidades muitos mais antigas, como as de agir de maneira deliberada, mesmo que não completamente refletida, e, principalmente, em nas capacidades de produção de sofrimento aos outros seres, tanto em disputas e lutas com organismos da mesma espécie, como em organismos de outras espécies por meio da predação. Já sobre o amor, já escrevi uma longa resposta sobre sua gênese evolutiva que você pode acessar aqui.
Por fim, em relação a nossa suposta tendenciosidade para fazer as piores escolhas, eu não poderia recomendar com mais ênfase um ensaio do finado paleontólogo e divulgador científico, Stephen Jay Gould, chamado “The Great Assimetry”. Nele, Gould argumenta que esta perspectiva lúgubre sobre a humanidade estaria fundada em uma assimetria essencial entre, de um lado, a forma como a complexidade surge em nosso universo, isto é, de maneira incremental, lenta e contingente, e, de outro lado, a facilidade com que ela pode ser destruída.
“O Homo sapiens não é uma espécie má ou destrutiva. Mas a arquitetura da complexidade estrutural, a grande assimetria do meu título, permite que se desfaça em momentos o que só pode ser construído em séculos. A tragédia humana essencial, e a verdadeira fonte de potencial utilização indevida da ciência para a destruição, reside na natureza inelutável desta grande assimetria, não no caráter do próprio conhecimento. Realizamos 10 mil atos pequenos, e sem qualquer registro, de bondade para cada infinitamente raro, mas, infelizmente, desequilibrante momento de crueldade” [1]
Comentei um pouco sobre este texto de Gould anteriormente ao responder uma questão sobre por que as doenças e as imperfeições em nossos corpos existem. Caso queira lê-la pode fazê-lo aqui.
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Literatura Recomendada:
Gould, Stephen Jay The Great Asymmetry Science 6 February 1998: 279 (5352), 812-813. DOI:10.1126/science.279.5352.812 .
Grande abraço,
Rodrigo