Sunday January 08, 2012
<a href="https://h4wrt.tumblr.com/" style="text-decoration:underline;">h4wrt</a>: Gostaria que você desse seu parecer em relação a isso: migre[PONTO]me[BARRA]7qVNM -Isso ai é um link, substituí por que o tumblr não aceita links nas perguntas. É um texto sobre o meio científico e o evolucionismo. Obrigado.
Esse é o típico texto criacionista clássico, cheio de citações de “autoridades" (deveríamos dizer especialistas, alguns até bem antigos e já, há muito, falecidos) retiradas fora de seu contexto original, usadas para fazer parecer com que a aceitação da evolução por parte dos cientistas seria algo irracional e motivado emocionalmente ou ideologicamente. Eles buscam com estas estratégias nivelar por baixo a discussão, dando a impressão que a biologia evolutiva e a paleontologia estariam em pé de igualdade com o criacionismo, o que é um claro absurdo.
A prática da “garimpagem de citações” ou ”quote mining“ é um dos expedientes preferidos pelos criacionistas, pois em sua restrita e anacrônica perspectiva não são as evidências bem documentadas e avaliadas por terceiros e os argumentos cogentes e bem estruturados que valem, mas sim a suposta autoridade de quem profere alguma afirmação. Esta atitude espelha a forma com que os próprios criacionistas comportam-se diante de seus líderes e como aceitam seus dogmas e doutrinas. O problema é ainda pior por que, além de citar os autores fora do contexto, distorcendo os significado do texto original (em algumas ocasiões até cortando partes e emendando em outras), algumas vezes as citações são atribuídas erroneamente a um autor que jamais disse tal frase, quando não são completamente inventadas pelos criacionistas, remotamente lembrando algo que tenha sido escrito pelo autor vítima desta prática. Este parece ser o caso das citações de George Wald e Arthur Keith usadas no texto a que vc se refere. Os criacionista são famosos por este tipo de desonestidade intelectual e pela perpetuação descuidada deste tipo de falsas citações e dos erros que subseqüentemente se acumulam a elas.
A grande maioria das citações, entretanto, em nada depõem contra as evidências científicas em apoio a evolução biológica e a apreciação e aceitação das mesmas pela comunidade científica, apenas expondo as opiniões de autores que, além de serem cientistas, são também ateus ou agnósticos. Este ponto é importante por que o autor deste patético texto esquece-se que muitos religiosos, inclusive cientistas religiosos, aceitam a evolução biológica como fato, de pronto, mostrando que não há ligação necessária entre a aceitação da evolução e ateísmo ou teísmo, pois apenas as formas mais sectárias e literalistas de religião é que opõem-se a descendência com modificação e a ancestralidade comum dos seres vivos..
Esses religiosos que aceitam a evolução como fato apenas não buscam no estudo da biologia evolutiva formas de confirmar sua fé, pois compreendem que, em se tratando de pesquisa científica, faz-se necessário que as explicações sejam humanamente inteligíveis e, portanto, empiricamente escrutináveis, tornando, simplesmente, contraproducente postular a existência de entidades sobrenaturais com habilidades irrestritas e intenções e métodos incognoscíveis.
O problema é que um ser tão poderoso e tão inteligente seria capaz de fazer as coisas da maneira que quisesse, sendo, por isso, compatível com qualquer estado de coisas. Apenas quando se impõem restrições e se estipulam eventos e processos precisos e particulares, sobre os quais temos experiência em primeira mão - ou suficientemente próxima de modo que possamos extrapolar a partir dela - é que podemos investigar a suposta ocorrência de planejamento e, portanto, a participação de agentes intelectuais, como fazemos na arqueologia, na história, nas ciências forenses e até na etologia. Nestes casos podemos traçar, inferir, conjecturar, reconstituir e investigar de maneira plausível os métodos, procedimentos, motivações e objetivos desses supostos entes perpetradores e planejadores, em geral humanos, que, além tudo, temos evidências diretas que eles existem e indiretas que existiram até certo momento no passado. Por isso, quando muitos cientistas falam no caráter não planejado do processo de evolução, têm em mente esta limitação intrínseca à investigação de agência cognitiva sobrenatural, especialmente por que além de tudo, acaba sendo supérfluo postular tal tipo de agência quando existem muitas alternativas naturais cientificamente acessíveis.
A questão é que não há qualquer ganho científico em simplesmente se assumir que um ser sobrenatural super-ultra-hiper-poderoso e incrivelmente mais sábio que nós (muito além de nossa compreensão, e, portanto, sobre o qual não podemos entender, estudar e replicar seus métodos e intenções) esteja por trás desses processos. Por isso, quando os cientistas religiosos dão este salto de fé, o fazem não como cientistas, mas como homens de fé em busca por respostas transcendentes que estariam além das ciências.
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Literatura Recomendada:
Hopkins, Michael [Posted: February 28, 2002] Quotations and Misquotations: Why What Antievolutionists Quote is Not Valid Evidence Against Evolution [Links updated: March 18, 2004]
Grande abraço,
Rodrigo