Sunday November 23, 2014
Anonymous: onde teriam surgido os generos da especie humana
Normalmente, quando falamos em espécie humana, referimo-nos apenas ao Homo sapiens, mas especificamente ao Homo sapiens sapiens, queé pertencente a um único gênero, Homo. A expressão ‘seres humanos’ é mais ambígua e pode ser empregada para incluir outras espécies do nosso gênero e mesmo para outras espécies de outros gênero da subtribo Hominina, por exemplo, como os Australopithecus- embora este gêneroseja um grupo parafilético, já que não incluiria todos seus descendente, especialmente as espécies do gênero Homo. Nos dois casos entretanto estes dois grupos originaram-se no continente Africano.
Existe um outro problema entretanto que causa certa confusão. Grupos taxonômicos mais amplos (como gêneros, famílias, ordens, classes, filos etc) não surgem como tais, de uma hora para outra, com todas as características que os definem aparecendo de uma vez só. Estas linhagens podem ser descritas quando conseguimos diagnosticá-las com base na análise de suas características compartilhadas, mas estas características não surge todas de uma vez, em um único evento de cladogênese, mas emergem através de vários eventos de especiação e de evolução dentro de cada espécie (anagênese), além de, em parte, surgirem como um artefato, oriundo da extinção de certas espécies e, com elas, de algumas de suas características de transição. Durante estes eventos de especiação (e evolução interna a linhagem) é que haveria o acumulo das características que nos fazem considerá-los como tais, o que só pode ser feito a posteriori, portanto, em retrospecto, especialmente no caso dos chamados 'grupos copa’ que são aqueles representados por espécies viventes e seus ancestrais comuns mais recentes, em contraste com os 'grupos tronco’, que dizem respeito as espécies extintas mais próximas de um 'grupo copa’ do que de qualquer outro grupo, que são tidas como as formas mais basais e que ainda não haviam evoluído todas as características derivadas compartilhadas que caracterizam o 'grupo copa’*.
Tradicionalmente várias características tidas como típicas de nossa gênero (como os nossos grandes corpos lineares, membros posteriores mais alongadas, cérebros grandes e energeticamente custosos, além do menor dimorfismo sexual, o aumento carnivoría, um período de maturação mais longo e maior capacidade cooperação) são tidas como tendo evoluído de maneira mais ou menos concomitante no gênero Homo, isto é, teriam evoluído em um espaço de tempo relativamente curto geologicamente falando - mas ainda assim em muitas gerações e não em através um único evento.Estas características teriam evoluídoa medida que as regiões ocupadas por gramíneas na África expandiam-se e o clima da Terra tornava-se mais frio e seco, gerando as pressões evolutivas que guaram a evolução de nossa linhagem. Porém, novas evidências climáticas e fósseis sugerem que essas características emergiram de maneira bem mais gradativa, com algumas delas já estando presentes em espécies de Australopithecus, que viviam entre 3 e 4 milhões de anos atrás, enquanto outras teriam evoluído depois.
Os novos resultados também revelam que, algo em torno de 2,5-1.500.000 de anos atrás, três espécies do gêneroHomoevoluíram em contexto deinstabilidade e fragmentação dos seushabitat, que envolvia mudanças em escalassazonais, intergeracionais emacroevolutivas. Este ambiente em constante mudança teria favorecido características,tais como flexibilidade alimentar e maior o tamanho do corpo, que facilitaram a sobrevivência nestesambientes instáveis. De acordo com os autores deste trabalho, publicado na revista Science, a flexibilidade alimentar em ambientes imprevisíveis, o cuidado parental cooperativo e plasticidade no desenvolvimento que teriam permitido a expansão geográfica humana e reduzido os riscos de mortalidade. Estes primeiros seres humanos, graças as suas habilidades de ajustamento as condições climáticas e ambientais, puderam, assim, 'variar, sobreviver e começar a espalhar da África para a Eurásia, por volta de 1.8500.00 anos atrás.

[Cortesia de Antón, Potts and Aiello (2014), Science 345(6192) via newdesk.si.edu.]
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*Este problema tem sua origem nos fato de os grupos taxonômicos mais tradicionais terem sido agrupados com base, primeiramente, nas características das formas de seres vivos remanescentes; características essas que, posteriormente, foram impostas às formas extintas conforme elas iam sendo descobertas. Como muitas destas formas não tinham todas essas características uma certa confusão de nomenclatura acabou sendo produzida. Porém, esta divisão entre 'grupos tronco’ e 'grupos copa’ ajuda a corrigir este artefato histórico e permite que percebamos que as características que definem os grupos não emergem todas de uma vez só, existindo várias 'formas de transição’ que compõem os chamados grupos tronco. Neste caso, um grupo copa emergiria quando a última característica considerada diagnóstica tivesse evoluído, sendo depois passada aos demais descendentes daquela espécie em particular. Este evento originalmente deve ter sido um mero evento de especiação ou de evolução interna a linhagem que depois dividiu-se e divergiu com as linhagens descendentes tendo passado pelo mesmo processo e assim por diante. Para compreender melhor esta questão dê uma olhada nestas respostas aqui, aqui, aqui e aqui.
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Literatura Recomenda:
Antón SC, Potts R, Aiello LC. Human evolution. Evolution of early Homo: an integrated biological perspective. Science. 2014 Jul 4;345(6192):1236828. doi: 10.1126/science.1236828.
Grande abraço,
Rodrigo