Thursday July 14, 2011
Anonymous: Vocês já leram os artigos do dr. Douglas D. Axe? O que acham deles?
Eu ainda não li os artigos dele com muita atenção, apenas os abstracts e comentários a respeito. Pelo que pude ver ele é um biólogo estrutural competente que chefia o Instituto Biológico do Discovery Institute (DI), o órgão que deveria “promover” o avanço da hipótese do Design Inteligente “de forma científica”, mas até onde pude observar o que eles fazem por lá são apenas estudos de biologia molecular estrutural e mutagênese bem padrão. Como trabalhos anteriores de outro conhecido membro do DI, Michael Behe - que foram publicados na literatura peer reviewed tradicional – os estudos de Axe não envolvem qualquer teste direto da hipótese do Designer Inteligente, nem mesmo menção a ela, apenas uma vaga tentativa de estabelecer os supostos limites da evolução molecular e das relações entre mutações aleatórias e funcionamento das enzimas.
Um dos maiores problemas com os experimentos de Axe é que além de não testarem diretamente a a hipótese do DI, também não investigam as vias de evolução das proteínas e enzimas a partir da reconstituição dos passos evolutivos através de filogenias moleculares, como fazem por exemplo Thornton e Yokoyama. Assim, a extrapolação dos dados de estudos como o de Axe - que em geral tem várias limitações -, afim de obter-se as conclusões que os Criacionistas do Design Inteligente (CDI) desejam empurrar goela abaixo dos desaviados, é completamente destituída de mérito. Isso ocorre por que mesmo que os experimentos estejam corretos e os problemas abordados neles interessantes a ligação com a evolução biológica é apenas tangencial e com o Design Inteligente apenas existente na fantasia dos CDI. Por exemplo, os estudos de sensibilidade mutacional de um tipo especial de arranjo estrutural da penicilamase que Axe publicou em 2004 usam como padrão estrutural uma variante hipersensível à mutações para que assim pudesse ser investigada através do protocolo que ele utilizava. O tipo de conclusões que Meyer e Dembski chegam sobre a “evolutibilidade” de proteínas naturalisticamente a partir dos dado deste estudo são simplesmente ridículos dado as limitações do estudo.
Os CDI omitem as limitações do estudo e ignoram outras estimativas da literatura, além de deixarem de lado completamente o fato de que outros padrões estruturais não relacionados podem desempenhar a mesma função, assim como biopolímeros de outros tamanhos. Além disso não mencionam que há sobreposição de funções que podem ser co-optadas e ajustadas através da seleção natural em certos contextos. Parece existir uma cegueira consciente em relação a vasta literatura sobre evolução de proteínas, especialmente aquela parte em que funções são buscadas em peptídeos e proteínas gerados aleatoriamente, além dos estudos sobre evolução de robustez à mutações e da evolução através de redes neutras.
O padrão adotado por gente como Axe parece ser produzir artigos técnicos sem referências diretas ao Design Inteligente - mas com temas e resultados apenas marginalmente relevantes para a questão da evolução biológica - publicá-los em periódicos sérios, usando mais tarde esse material como se legitimasse o DI e constituísse uma agenda de pesquisa progressiva de pesquisa. Essa segunda fase do processo, mais retórica e propagandista, é atingida através da publicação nos próprios periódicos dos CDI, como o BIO-complexity (e através de blogs e livros) nos quais estão livres para cometerem livremente erros conceituais, distorcerem resultados alheios e ignorar resultados experimentais e teóricos relevantes publicados por biólogos evolutivos e outros pesquisadores. Os CDI continuam usando os mesmos argumentos de improbabilidade e ignorando os demais mecanismos evolutivos e, como já mencionado, a própria história evolutiva das sequências de biomoléculas que podem ser traçadas a partir de estudos de síntese funcional. Por causa desse tipo de coisa não vejo nada especial nos artigos de Axe.
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Literatura Recomendada:
Adami, Christoph Reducible Complexity Science 7 April 2006: Vol. 312. no. 5770, pp. 61 - 63 DOI: 10.1126/science.1126559
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Bridgham JT, Carroll SM, Thornton JW. Evolution of hormone-receptor complexity by molecular exploitation. Science. 2006 Apr 7;312(5770):97-101. PubMed PMID: 16601189.
Dean AM, Thornton JW. Mechanistic approaches to the study of evolution: the functional synthesis. Nature Reviews Genetics 8:675-688, 2007.
Gauger, A., & Axe, D. (2011). The Evolutionary Accessibility of New Enzymes Functions: A Case Study from the Biotin Pathway. BIO-Complexity, 2011(0). Retrieved July 14, 2011.
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Abraços,
Rodrigo