Thursday June 27, 2013
Anonymous: queria fazer uma comparação. três gêneros de animais, a perereca, a lagartixa e a lesma cor-de-rosa australiana carnívora(que come musgo e outras lesmas), ambos os 3 possuem uma viscosidade que gruda nas paredes. mas eu não cheguei a conhecer nem a lesma australiana, nem o grupo das arqueobactérias nos livros de biologia na minha época. primeira pergunta: essa comparação dessas três espécies é valida? e como eses 2 grupos interferem linha evolutiva das espécies? já que o dna das archae distintos
Para que você está fazendo esta comparação?
O que posso lhe adiantar é que lesmas (e outros gastrópodes de modo geral e, portanto, não só a lesma cor-de-rosa) e pererecas empregam um determinado mecanismo genérico de adesão, conhecido como ‘adesão úmida’ que envolve, entre outras coisas, a capilaridade e sucção, realmente dependendo da secreção de algum tipo de líquido [1]. Porém, as lagartixas (os ‘geckos’) não empregam este método, mas sim o que os pesquisadores chamam de ‘adesão seca’ que funciona por meio de cerdas e lamelas das patas destes animais que conseguem mobilizar forças de van der Waals [1, 2]. Na figura abaixo podemos ver um resumo dos principias princípios funcionais e os efeitos físicos por trás dos mecanismos de adesão biológica [1].
O resto da sua pergunta, eu realmente não sei como responder. A lesma cor-de-rosa carnívora que você mencionou é apenas mais uma lesma, Triboniophorus aff. graeffei, de um gênero já conhecido Triboniophorus. Esta nova espécie não deve ter qualquer impacto na classifcação mais ampla dos moluscos e nem na nossa maneira de compreender as relações evolutivas entre os grupos de organismos. Já o grupo de microrganismo hoje chamado de Archaea (antes Arqueobactérias) nos levaram a uma grande reformulação das relações de parentesco evolutivo entre os seres vivos. A partr dos estudos pioneiros de Woese e colaboradores que compraram os RNAs ribossômicos destes organismos com os de outros microrganismos procariontes e outros seres eucariomtes, ficou claro que estes organismos não eram simples bactérias, já que bioquimicamente eram bastante distintos, em vários aspectos mais parecidos com os eucariontes [3].
A classificação em cinco reinos - que eu ainda aprendi como sendo a única, na escola, e ainda era apresentada nos meus anos de universidade, , no comecinho da década de 1990 - que traçava uma linha divisória entre os procariontes e os eucariontes, deu lugar a uma concepção diferente na qual existem três grandes domínios, as Bactérias e os Archaea, ambos formados por microrganismos procariontes, e os Eukarya ou Eukayota, formados por todo o resto dos organismos eucariontes uni e pluricelulares. Além disso, hoje parece claro que os três domínios se separaram muito no começo da história da vida celular, com os eucariontes sendo na verdade mais próximos aos Archaea do que as bactérias, apesar de existirem evidências que parte de nossa genoma deve ter se originado deste grupo também, o que complica muito as relações e processo de origem destes três grandes domínios da vida [3].
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Literatura Recomendada:
del. Campo, A., Schwotzer, A., Gorb, S.N. , Aldred, N. , Santos, R. and Flammang, P. Biological and Biomimetic Adhesives: Challenges and Opportunities Santos, Romana, Aldred, Nick, Gorb, Stanislav, Flammang, Patrick (Editor), 2013. doi:10.1039/9781849737135 208p
Autumn K, Peattie AM. Mechanisms of adhesion in geckos. Integr Comp Biol. 2002 Dec;42(6):1081-90. doi: 10.1093/icb/42.6.1081.
Woese CR, Fox GE. Phylogenetic structure of the prokaryotic domain: the primary kingdoms. Proc Natl Acad Sci U S A. 1977 Nov;74(11):5088-90. PubMed PMID: 270744; PubMed Central PMCID: PMC432104.
Grande abraço,
Rodrigo
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