Thursday September 15, 2011
Anonymous: Qual é exatamente o motivo da existência de um "ponto G" no ânus? Digo, de um ponto de vista puramente biológico, me parece inútil...
Desculpe, mas desconheço qualquer “ponto G” anal. Neuroanatomia não é minha especialidade. :) Contudo, o termo, até onde posso dizer, é reservado para um suposto plexo nervoso que existiria no interior da parede interna da vagina, mas a evidência neuroanatômica e eletrofisiológica deste “ponto” é ainda bastante debatida. Talvez vc se refira ao prazer anal associado a existência de áreas análogas (plexos e terminações nervosas) localizados na parede interna do reto e ânus, agindo em associação com contrações da musculatura adjacente. Neste caso, poderia se especular que isso se deva a uma mera coincidência em decorrência da complexidade de inervação de todo o trato digestivo, especialmente do intestino (veja por exemplo o chamado sistema nervoso entérico), reto, esfincter e ânus, estes últimos cumprindo um papel muito importante no controle da defecação, sendo muito muscularizados e sob o controle consciente. As regiões corticais e límbicas cerebrais sensoriais que recebem informações destas regiões devem cruzar-se com vias cerebrais associadas ao sistema de recompensa e do prazer de modo mais geral e isso pode variar de indivíduo para indivíduo.
No entanto, não existe, até onde sei, nenhuma evidência (ou necessidade evolutiva) que essa capacidade (de sentir prazer nestas regiões) tenha tido um papel adaptativo específico e, portanto, tenha sido selecionada em populações humanas ancestrais. Nem toda a característica biológica precisa ser, neste sentido, um produto direto da seleção natural, possuindo assim uma “utilidade” clara e pré-determinada, como vc parece pensar. Isto é, nem tudo é uma adaptação, neste sentido estrito do termo, e muitas de nossas características são apenas subprodutos da evolução de outras estruturas ou de restrições dos sistemas genético-desenvolvimentais que podem, eventualmente, ter suas consequências corporais e comportamentais co-optadas em outros tipos de atividade. A pele, a língua e os mamilos, além de outras partes dos corpo, não são órgãos sexuais primários, per se, mas estão envolvidos, pelo menos em nossa espécie, no ato sexual tanto de indivíduos heteros como homossexuais, exatamente e simplesmente, por que pode-se obter prazer a partir da estimulação destas regiões. Mesmo que do ponto de vista evolutivo isso seja apenas um subproduto do intrincado padrão de inervação e mapeamento cerebral cortical dessas regiões em função de seus papéis em outras atividades sensoriais, fisiológicas e comportamentais, e, portanto, não tenha produzido efeitos discerníveis nos sucesso reprodutivo passado de nossos ancestrais por seus efeitos específicos associados ao sexo ou a estimulação anal.
Grande abraço,
Rodrigo.