Tuesday December 18, 2012
Anonymous: Ao passo que os biólogos evolucionistas afirmam que, nada na biologia faz sentido exceto à luz da evolução, outros "críticos" afirmam que, em praticamente nenhuma outra área da ciência, a evolução é levada em conta exceto quando o assunto é biologia evolutiva. Afinal, a teoria da evolução tem utilização prática ou não?
Sim, a biologia evolutiva e a moderna Teoria Evolutiva (TE) têm muitas aplicações em outros campos. Alguns exemplos são o estudo dos processos de resistência a agentes antimicrobianos e antitumorais, o que permite delinear estratégias mais eficazes no tratamento de enfermidades infecciosas e neoplasias. Outros exemplos são o estudo da dinâmica de pragas e insights na compreensão do processo de resistência a pesticidas, portanto, tendo impacto potencial no manejo agrícola. A Teoria Evolutiva também tem aplicações muito importantes na biologia da conservação, especialmente na investigação do impacto de espécies invasoras e na compreensão do que predispõem certas populações a extinção, o que é muito útil no manejo de recursos como o pescado, por exemplo.
Princípios de biologia evolutiva também podem ser usados na modelagem epidemiológica e portanto na vigilância de doenças infectocontagiosas emergentes e no rasteamento e antecipação de epidemias e pandemias. A TE também serve de modelo para a compreensão dos processos de resposta imune adquirida e também tem sido usada para explicar e investigar a dinâmica tumoral, além do fato importantíssimo que muitos princípios básicos da biologia evolutiva orientarem boa parte dos trabalhos em genômica, proteômica e biologia estrutural por meio da bioinformática e da biologia computacional que tem permitido descobrir novos genes, novas proteínas e vias bioquímicas chave para processos vitais a partir da transferência informações de biomoléculas de uma espécie para outra, por meio de estudos de conservação e homologia, bem como investigar as características mais essenciais de proteínas e peptídeos e usar essas informações para identificar melhores alvos e criar fármacos específicos. Os métodos de análise filogenética que são parte da biologia evolutiva também são outro exemplo importante tendo importância em áreas como a genética histórica e genética forense.
Uma outra área que vem crescendo é a da “evolução dirigida” que usa princípios da biologia veolutiva para o desenvolvimento de moléculas de interesse farmacêutico e da industria biotecnológica de forma geral. Podemos citar também campos como a ’computação evolutiva’ (do qual os algoritmos genéticos são um exemplo particular) que usam princípios derivados da biologia evolutiva no desenvolvimento de novos algoritmos e estratégias computacionais. Nas últimas décadas, a chamada ‘medicina evolutiva’ ou 'medicina darwiniana’ tem tentado se articular de modo a oferecer uma compreensão mais profunda dos processos patológicos e de envelhecimento humano o que abre as perspectivas da TE ajudar mais diretamente na manutenção e promoção da saúde humana. Para maiores detalhes e referências veja também os links aqui, aqui e aqui e leia o post “O alvorecer da filomedicina” publicado em nosso site evolucionismo.org.
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Literatura Recomendada:
Hendry, A. P., Kinnison, M. T., Heino, M., Day, T., Smith, T. B., Fitt, G., Bergstrom, C. T., Oakeshott, J., Jørgensen, P. S., Zalucki, M. P., Gilchrist, G., Southerton, S., Sih, A., Strauss, S., Denison, R. F. and Carroll, S. P. (2011), Evolutionary principles and their practical application. Evolutionary Applications, 4: 159–183. doi: 10.1111/j.1752-4571.2010.00165.x
Nesse RM. How is Darwinian medicine useful? West J Med. 2001 May;174(5):358-60. Review. PubMed PMID: 11342524; PubMed Central PMCID: PMC1071402. [PDF]
Nesse RM, Ganten D, Gregory TR, Omenn GS. Evolutionary molecular medicine. J Mol Med (Berl). 2012 May;90(5):509-22. Epub 2012 Apr 29. PubMed PMID: 22544168
Nesse RM. What evolutionary biology offers public health. Bull World Health Organ. 2008 Feb;86(2):83. PubMed PMID: 18297156; PubMed Central PMCID:PMC2647384. [PDF]
Nesse RM, Williams GC. Evolution and the origins of disease. Sci Am. 1998 Nov;279(5):86-93. Erratum in: Sci Am 1999 Mar;280(3):14. PubMed PMID: 9796548.
Reiber C. Evolution for epidemiologists. Ann Epidemiol. 2009 Apr;19(4):276-9. doi: 10.1016/j.annepidem.2008.12.016. Epub 2009 Feb 20. Review. PubMed PMID:19230709.
Grande abraço,
Rodrigo