Tuesday January 01, 2013
Anonymous: Já ouvi dizer que o apêndice caudal é prova da evolução. O que dizer, então, dos argumentos desse vídeo criacionista: /watch?v=EtVeeTIX-Cw ? (do youtube). Por favor responda.
Já discutimos algumas vezes, especialmente nas épocas do formspring, a inadequação do termo ‘prova’ em relação as obervações e experimentos que corroboram, ou dão suporte, a realidade de certos fenômenos ou a teorias, modelos e hipóteses que os explicam e que estão na base investigação científica [1, 2, 3]. O termo 'prova’ embora possa ser encarado como um simples sinônimo de evidência, em geral, passa uma ideia de que uma única evidência possa ser considerada irrefutável, o que não faz muito sentido fora da matemática e da lógica em que a partir de axiomas ou premissas aceitas é possível a literalmente provar certas conclusões acima de qualquer dúvida [1]. Na realidade, as evidências científicas envolvem sempre algum nível de incerteza e por causa disso fenômenos como a evolução biológica, que são indiretamente inferidos, são aceitos pela comunidade científica não por evidências individuais desconjuntadas, mas sim em função dos grandes conjuntos de evidências empíricas advindas de diversas linhas de pesquisa científica obtidas pelo emprego de uma gama de métodos distintos que, no caso específico, convergem para a ideia de ancestralidade comum por meio de descendência com modificação como a melhor explicação existente. As evidências de órgãos e estruturas vestigiais se enquadram neste contexto mais amplo e portanto não devem ser vistas como evidências isoladas e muito menos como provas neste sentido que discuti acima.
Porém, antes de comentar mais a fundo sobre a questão específica do apêndice caudal, gostaria de propor que ao invés de apenas remeter ao vídeo, você simplesmente resumisse o argumento empregado no mesmo. Imagino, entretanto, que o argumento gire em torno da ideia de que o apêndice tenha algum tipo de função nos seres humanos e isso invalidaria seu uso como evidência em favor da evolução biológica, o que é simplesmente incorreto pois funções secundárias, especialmente as não essenciais para a sobrevivência dos organismos, são completamente compatíveis com a ideia da perda da função ancestral como inferida pelo fato de outros organismos semelhantes e considerados aparentados a a nós ainda a possuírem [4] atrelada a versões bem mais desenvolvidas da estrutura em questão.
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Literatura recomendada:
Theobald, Douglas L. Scientific Evidence Supports the Theory of Evolution in Theobald, Douglas L. “29+ Evidences for Macroevolution: The Scientific Case for Common Descent.”The Talk.Origins Archive. Vers. 2.83. 2004. 12 Jan, 2004
Scientific Evidence (n.d.). In Wikipedia. Acessado em 1 de janeiro, 2013.
Kelly, Thomas, “Evidence”, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Fall 2008 Edition), Edward N. Zalta (ed.).
Theobald, Douglas L. Vestiges can have functions 29+ Evidences for Macroevolution Part 2: Past History in Theobald, Douglas L. “29+ Evidences for Macroevolution: The Scientific Case for Common Descent.”The Talk.Origins Archive. Vers. 2.83. 2004. 12 Jan, 2004
Grande abraço,
Rodrigo