Tuesday March 19, 2013
<a href="https://adunum-blog.tumblr.com/" style="text-decoration:underline;">adunum-blog</a>: Gostaria de saber se existe algum trabalho que relacione as mariposas da revolução industrial a epigenegica.Obrigada.
Desconheço trabalhos específicos com a mariposa Biston betularia investigando as relações entre melanismo industrial e alterações epigenéticas. Não consegui achar nenhum trabalho específico sobre isso, embora realmente existam sugestões nestes sentido. Por exemplo, que a coloração escura do ‘morfotipo’ Biston betularia carbonaria (em contraste com o tipo original e mais comum antes da revolução industrial Biston betularia typica, que possui uma coloração clara 'salpicada’ nas asas e Biston betularia insularia que representam formas intermediárias) seria diretamente induzida por alterações ambientais, como os poluentes causadores da morte dos líquens e pelo escurecimento das árvores (hipótese sustentada originalmente por John Williams Heslop-Harrison (veja aqui) que realizou experimentos em outros lepidópteros, alimentando suas larvas com folhas contaminadas – com seus resultados, entretanto, não sendo replicados por outros cientistas. Porém, uma ideia semelhante foi, mais uma vez, levantada, em 1998, em um artigo de autoria de Ted Sargent e colaboradores [apud referência 1), quem também sugeriram que tais alterações poderiam ser transmissíveis às futuras gerações por herança epigenética transgeracional.
Enquanto, a hipótese da indução ambiental dos fenótipos adultos em B. betularia não foi confirmada por estudos posteriores, a herança destes supostos fenótipos induzidos é ainda mais problemática. Na ausência de investigações mais precisas sobre o assunto, esta ideia é apenas uma especulação (por enquanto, sem qualquer fundamento) que nem ao mesmo explica a inversão das frequências dos morfotipos após a aprovação das leis antipoluição, aprovadas a partir dos anos 50. O fato principal é que os diversos morfotipos dessas mariposas são resultado de diferentes alelos de um único locus [2] (que por sinal está perto da identificação final, como estudos recentes sugerem [3]) e que seguem um padrão de transmissão hereditária autossômico mendeliano, com os alelos responsáveis pela cor escura sendo dominantes, com este padrão de herança repetidamente confirmado por múltiplos cruzamentos controlados feitos por vários pesquisadores de maneira independente [1, 2]; e, o mais importante, estes resultados querem dizer que esta característica não apresenta a característica metaestabilidade que se espera da herança epigenética transgeracional.
Desculpe não poder ajudá-la mais do que isso. Caso você descubra alguma referência tratando mais diretamente desta questão, por favor, me envie e volte a perguntar sobre o assunto.
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Literatura Recomendada:
Grant, Bruce S (June 2012) Industrial Melanism. In: eLS. John Wiley & Sons, Ltd: Chichester.DOI: 10.1002/9780470015902.a0001788.pub3 [pdf]
Grant BS. Allelic melanism in American and British peppered moths. J Hered. 2004 Mar-Apr;95(2):97-102. PubMed PMID: 15073224. doi: 10.1093/jhered/esh022 [pdf]
van’t Hof AE, Edmonds N, Dalíková M, Marec F, Saccheri IJ. Industrial melanism in British peppered moths has a singular and recent mutational origin. Science. 2011 May 20;332(6032):958-60. doi: 10.1126/science.1203043. Epub 2011 Apr 14. PubMed PMID: 21493823. doi: 10.1126/science.1203043 [pdf]
Crédito das figuras:
CLAUDE NURIDSANY & MARIE PERENNOU/SCIENCE PHOTO LIBRARY
Grande abraço,
Rodrigo