Tuesday May 15, 2012
<a href="https://h4wrt.tumblr.com/" style="text-decoration:underline;">h4wrt</a>: Sei que talvez esse assunto fuja do foco do site, mas o que achou da entrevista do Climatologista Ricardo Augusto no programa do Jô (migre[PONTO]me[BARRA]95DDF), onde diz que o Aquecimento global é uma farsa?
O tema realmente foge bastante de nosso escopo e como não sou climatologista (e não tenho estudado o assunto com tanta ênfase) não poderia comentar muito profundamente sobre as declarações do referido pesquisador e os detalhes por trás delas.
Porém, o tema é importante e mostra como questões políticas, econômicas e ideológicas de maneira geral podem contaminar os debates públicos que se originam da divulgação científica, de uma maneira análoga ao que ocorre em relação ao Criacionismo tradicional e do Design Inteligente (em relação a evolução), ambas formas de negacionismo, similares, ao que vemos em relação ao aquecimento global, em que certos setores da sociedade e indivíduos parecem por em dúvida certas conclusões científicas apenas por discordarem de suas consequências e repercussões ideológicas, e, a partir daí, reunindo todo o tipo de argumento, seja ele falso, falacioso ou simplesmente irrelevante para combater esta conclusão.A retórica, aliás, é muito parecida ainda que os negacionistas partam de pontos de vista ideológico diferentes, ainda que exista alguma sobreposição entre os leigos com muitos criacionistas negando também o AG, em função de uma agenda conservadora comum ou da simples crença que Deus não faria isso conosco.
Diferentemente de outras áreas, como a biologia evolutiva (em que as evidências puderam ser debatidas e analisadas sem pressa já que as consequências práticas imediatas eram pequenas, mais associadas a nossa auto-imagem - e assim o consenso pode ser alcançado de maneira mais natural), o aquecimento global, em contraste, é um fenômeno potencialmente muito problemático, portanto, demanda uma análise de riscos e um esmiuçamento de suas consequências rápido, baseado em nossos melhores modelos e nas melhores evidências disponíveis, mesmo que elas estejam longe da perfeição (O que não deveria ser estranho à ninguém).
Isso ocorre por que ignorar as consequências do aquecimento global, quando de fato poderíamos fazer algo para controlá-lo, pode nos custar muito caro e o princípio da precaução exige uma postura bem mais cuidadosa do que simplesmente torcer para que nada de ruim ocorra contando, apenas, com o fato de nossas informações serem imperfeitas. Simplesmente não podemos nos dar o luxo de ignorar potenciais consequências drásticas para os próximos 25 ou 50 anos, principalmente, se estes cenários foram produzidos a partir de um enorme painel internacional, como o IPCC, formado por cientistas do mundo todo muito mais especializados do que o referido pesquisador.
Seus relatórios refletem, não os cenários mais extremos, mas os mais graves porém ainda assim mais prováveis dado as evidências disponíveis e nossos modelos climatológicos, sendo produto não de opiniões individuais, mas de consensos resultantes de muitos debates e da consideração dos contra-argumentos e das possibilidades alternativas, muitas delas proferidas pelo pesquisador na entrevista, mas que ele não se preocupa em informar que esse é o caso, como se os argumentos dele não tivessem sido refutados várias vezes. Além do mais, são os negacionistas (não sei o caso específico do entrevistado), em sua maioria, que têm interesses econômicos (muitos deles sendo financiados por lobbies bem pouco neutros) por trás de seus ataques e não a imensa maioria dos pesquisadores do IPCC que provem de vários backgroungs distintos e não se enquadram nessa ideia de grande conspiração global que os negacionistas parecem crer..
O que é realmente mais incerto seriam os efeitos das diversas medidas preventivas e reparadoras, como as estratégias econômicas sugeridas por muitos. Além de reduzir as emissões de CO2 e investir em tecnologias mais limpas, não sabemos muito o que fazer. E como fazer isso, no cenário geopolítico internacional, é algo também bem complicado. Neste ponto é que entrariam as divergências e que poderíamos debater, mas não sobre a questão específica do aquecimento global atual ser um fato (lembrando que flutuações ocorrem tanto no espaço como no tempo e, portanto, falamos de tendências e que, por sinal, tem sido corroboradas pelas análises subsequentes do IPCC) e de que boa parte dele parece realmente se dever a atividade antrópica e que talvez possamos minimizá-lo e, por isso, devemos tentar fazê-lo.
Não posso, como disse, discutir os detalhes da entrevistas, mas felizmente não preciso pois o Takata fez isso em uma série de posts no Gene Reporter que recomendo muito enfaticamente:
Como estão as previsões sobre a temperatura?
Também recomendo as postagens originais do Gene Repórter sobre o Aquecimento global: parte 1 , parte 2. parte 3.
Grande Abraço,
Rodrigo