Um Darwin Diferente: A Vida Amorosa
Quando jovem Darwin foi um rapaz gastador e com um forte espírito aventureiro. Nem mesmo as tentações conseguiram desviá-lo de seus propósitos. Foto de uma antiga moeda britânica de duas libras (cerca de R$6), com Charles Darwin. Muito rara hoje em dia e vale bastante para colecionadores, devido não ser mais fabricada.
Em outra postagem de mesmo título procurei apresentar um Darwin diferente do que estamos acostumados a admirar ou criticar nos textos sobre evolução das espécies. A proposta aqui é mostrar o ser humano por trás do intrépido naturalista que saiu pelo mundo numa viagem de circunavegação como propósito de embasar as sua teorias sobre a origem e evolução das espécies.
Na sua juventude, Charles Darwin (1809-1882) foi um rapaz gastador, tinha uma verdadeira compulsão por consumir e, certa vez em uma de suas cartas endereçadas às suas irmãs, disse "que era capaz de gastar dinheiro até na Lua". Aliás, as correspondências de Darwin serviram para revelar muito sobre a personalidade oculta do naturalista. Uma carta que Darwin escreveu a seu amigo, o geólogo escocês Charles Lyell, em 1861, pouco mais de um ano após a publicação de A Origem das Espécies mostra, por exemplo, um Darwin que parece estar num dia de fúria . A missiva, encontrado em A Correspondência de Charles Darwin, Volume 9 e disponibilizado on-line pelo Projeto Correspondência de Darwin , é ao mesmo tempo chocante em seu desânimo incomum e estranhamente reconfortante, lembrando-nos que mesmo as maiores mentes também têm os seus dias negros. Diz Darwin na carta, em um certo momento:
" Mas eu estou muito mal hoje e muito estúpido e odeio todo mundo e tudo..."
Apesar desta pequena amostra de destempero, Darwin tinha amigos em toda a parte, até no Brasil. O naturalista alemão Fritz Müller, que residiu por 20 anos em Blumenau, Santa Catarina trocou vasta correspondência com seu ídolo britânico. Após ler de modo entusiasmado "A Origem das Espécies", Müller publicou em 1863 o seu primeiro livro, intitulado Für Darwin, uma reunião de fatos e argumentos que apoiavam a Teoria da Evolução. Eram tão ligados que o próprio Darwin pedia, por carta, que ele pesquisasse certos aspectos práticos de suas teorias e Müller fazia isso de bom grado.
Mas vamos agora nos concentrar na vida amorosa de Darwin. Desde a infância ele nutria uma paixão por sua amiga e vizinha Fanny Owen (1808-1891). Fanny era considerada a garota mais formosa da cidade e do condado, era muito cortejada e, a julgar por suas cartas, muito inquieta. Antes que ele viajasse, a jovem lhe pedira em carta que, qualquer que fosse seu título, não deixasse de visitá-la e de manter acesa sua amizade.
A vida em Cambridge certamente tinha afastado Fanny de Darwin. Um jardim - chamado "floresta" e mencionado posteriormente nas cartas de Fanny como "Floresta Negra" - que ocupava a fronteira das duas casas, tinha sido palco de namoricos na infância e na adolescência, além do estúdio na casa dela, lembrado por anos em cartas secretas como tendo sido o cenário de muitas descobertas, tanto que se referiam a esses locais com um misto de encanto e sedução.
Contudo, em 1830 Fanny ficaria noiva de Jonh Hill, um clérigo americano, irmão do deputado conservador da cidade. Certa vez Darwin recebeu dela uma pequena bolsa de presente com um bilhete enigmático: "Dr. Postilhão, aceite esta pequena bolsa como lembrança da governanta da Floresta Negra". Os postilhões eram homem muito atraentes, andavam uniformizados e traziam um chicote à cintura, denotando o seu caráter dominador. As moças das classes mais elevadas se vestiam como se vestem hoje as governantas, com touca e avental. Anos antes, Hill terminara o noivado com Fanny e ela, pelo teor de seu bilhete, claramente estava disposta a voltar a brincar no jardim que dividia as duas casas; Charles como o imponente postilhão e ela a submissa governanta.
Fanny parecia conhecer muito bem a timidez de Darwin, seu jeito nervoso que o levava a gaguejar e a necessidade de dar um "empurrãozinho' no rapaz para terminar uma frase tola ou para começar algo mais sério. Embora não fosse comum para a época, Fanny tinha compartilhado com Darwin hábitos tão extravagantes para uma moça como o tiro e o jogo de bilhar.
Até alguns dias antes do Beagle partir no final de 1832, Fanny tentou fazê-lo desistir de sua viagem. Sua beleza elogiada por tantos quantos a conheciam, não podia suportar a insensibilidade de Charles diante do conteúdo de suas cartas, ora açucaradas, ora picantes. Nem as lembranças dos bons momentos que tinham passados juntos impediram o jovem naturalista de partir em buscas de seus anseios.
Quando retorna de sua viagem em 1836, Darwin se apaixona por sua prima Emma Wedgwood e casa-se com ela em janeiro de 1839. Sua esposa bela e doce, com quem teve 10 filhos, o amparou na doença que o acometeu durante toda a vida até o leito de morte, 43 anos depois. Durante esse período, Emma acompanhou o marido dividindo a tristeza da perda precoce de 3 filhos, mantendo a sua religiosidade e auxiliando-o na escrita de obras das quais era crítica.
_________________________________________
Para saber mais:
Moore, J e A. Desmond, 2000. Darwin- a vida de um evolucionista atormentado. Geração Editorial. 800 págs.
Bizzo, N., 2008. Darwin- do telhado das Américas à teoria da evolução. Odysseus Editora. 229 págs.
Charles Darwin e o método científico. Arquivado em www.profjabiorritmo.blogspot.com. Acesso em 06/09/2012