Wednesday February 01, 2012
Anonymous: Se teve uma era em que os dinossauros foram existintos, então todos os animais sumiram, como os outros animais surgiram novamente depois dessa época? E pq surgiram diferentes dos animais que habitavam antes? E a vida vegetal tbm foi destruída?
Respondendo a sua primeira pergunta: Não! A extinção Cretáceo-Paleogene (antes conhecida como Cretáceo-Terciário ou KT) há cerca de 65 milhões de anos atrás que deu cabo dos dinossauros não significou que todos os animais (e plantas) tenham sido extintos também extintos.
Hoje é bastante consensual que essa grande extinção, o evento KT (uma das cinco maiores extinções em massa, mas não a maior, por sinal), tenha sido causada (ou pelo menos deflagrada) pelo impacto de um asteroide enorme na superfície da Terra. Existem evidências de um resfriamento do clima de longo prazo, e de erupções vulcânicas maciças na Índia (o Deccan Traps), em épocas próximas, mas que não parecem, por si só, terem causado essa extinção em massa. O asteroide, com cerca de 10 quilômetros de diâmetro, que atingiu a Terra neste período, o fez na região da Península de Yucatán, no sul do México. Este incrível impacto formou a gigantesca cratera Chicxulub, que tem cerca de 150 quilômetros de diâmetro, e que está atualmente completamente coberta por sedimentos mais recentes. Existem rochas derretidas no assoalho da cratera característica de uma súbita elevação da temperatura que indicam o impacto que, por sua vez, teria provocado enormes maremotos, transversalmente àquilo que hoje conhecemos como Caribe, que atingiram as costas das Américas, movendo de lugar enormes pedregulhos do tamanho de casas.
As estimativas são de que cerca de 75|% das espécies tenham sido extintas, entre elas as de grupos como os dinossauros não-avianos, além de outros arcossauros, como os grandes répteis marinhos e pterossauros; bem como vários tipos de invertebrados, como os grandes moluscos marinhos amonitas; e vários grupos de plantas e algas. As taxas de extinção variaram bastante entre os grupos, com alguns sendo bastante atingidos (com uma porção desses tendo sido completamente dizimados) e outros sendo menos comprometidos. As aves - hoje consideradas pela maioria dos paleontólogos e sistematas de vertebrados como remanescentes dos dinossauros terópodes - foram, por exemplo, um dos grupos que sobreviveram a esta extinção. Outros sauropsídeos como as tartarugas, crocodilianos, bem como lagartos e cobras também sobreviveram ao evento KT. Mas além delas outros grupos que viviam neste período sobreviveram e, muito provavelmente por causa da extinção dos dinossauros, puderam se proliferar tendo passado por várias radiações adaptativas ocorridas depois do evento, como foi o caso dos mamíferos que, apesar de terem se originado de sinapsídeos mais ou menos na mesma época que os primeiros dinossauros aparaceram, permaneceram durante dezenas de milhões de anos como coadjuvantes ecológicos. Por isso, obviamente a re-população da terra ocorreu a partir dos grupos que não foram extintos na fronteira Cretáceo-Paleogene e que após este período formaram novas linhagens, algumas das quais persistindo até hoje.
Sobre as plantas, muitas delas foram bastante atingidos neste período, principalmente por que o asteroide, ao colidir com a superfície de nosso planeta, enviou vastas quantidade de partículas à atmosfera superior que deram origem a nuvens de poeira que sedimentaram-se, ao longo dos muitos meses que se seguiram ao impacto, em toda a superfície da Terra. [Esta poeira é marcada pelo (aqui na Terra) raro elemento irídio que originou-se do núcleo do asteroide e que marca, em todo o globo, a fronteira KT, naquilo que ficou conhecido como a anomalia de irídio.] Estas nuvens de poeira bloquearam a luz do Sol, o que provocou um processo de resfriamento global e interferiu muito com a fotossíntese. Assim, o fitoplâncton, bem como várias linhagens de plantas aquáticas e terrestres, apresentaram neste período altos índices de extinção, o que acarretou em uma grande mudança em termos das espécies dominantes e acabou atingindo outros níveis da cadeia alimentar, especialmente os grandes herbívoros que sobreviveram ao impacto inicial e seus predadores diretos. Onívoros, carniceiros e detritívoros, especialmente os de menor tamanho e que eram capazes de se esconder em tocas, tiveram maior sucesso e muitos grupos que sobreviveram ao impacto inicial recuperam-se e se expandiram posteriormente.
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Benton, M. The history of life. A very short introduction. Oxford University Press, Oxford, 2008. 170 pp.
Schulte, P et al. The Chicxulub asteroid impact and mass extinction at the Cretaceous-Paleogene boundary. Science. 2010 Mar 5;327(5970):1214-8. Review. PubMed PMID: 20203042.
Wilf P, Johnson KR (2004). “Land plant extinction at the end of the Cretaceous: a quantitative analysis of the North Dakota megafloral record”. Paleobiology 30 (3): 347–368. doi:10.1666/0094-8373(2004)030<0347:LPEATE>2.0.CO;2. ISSN 0094-8373.
Grande abraço,
Rodrigo
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