Wednesday July 27, 2011
Anonymous: A homossexualidade pode ser adaptativa na espécie humana? E/Ou como a homossexualidade pode ser vista evolutivamente?
Poder pode, mas de fato não sabemos muito sobre isso, embora uma forte contribuição biológica (possivelmente genética) para a homossexualidade seja inegável. Já discutimos bastante sobre essa questão em outras respostas na época do formspring e existem duas grandes perspectivas para explicar uma possível manutenção da homossexualidade como estratégia adaptativa em populações humanas, uma direta e outra indireta.
A primeira abrande os modelos baseados em seleção de parentesco em que a vantagem reprodutiva não está no aumento da prole direta dos indivíduos homossexuais, mas, sim, no aumento do sucesso reprodutivo de parentes próximos o que aumentaria a chamada aptidão inclusiva dos individuos homossexuais, já que esses parentes carregam muitos dos genes/alelos dos indivíduos homossexuais e podem, desta maneira, passá-los adiante e, assim, perpetuar a característica em questão. A ideia dos chamados “supertios” vem deste modelo, mas apenas tem suporte empírico muito limitado em algumas culturas bem particulares, como os “fa’afafine”.
A segunda perspectiva adaptativa envolve modelos baseados na possibilidade da homossexualidade não ser em si uma vantagem, mas que os alelos envolvidos em sua gênese aumentarem a fertilidade das mães que, mesmo produzindo filhos homossexuais, teriam uma vantagem por que produziriam mais filhos ou filhas heteros também. Assim, a homossexualidade seria apenas um subproduto de uma estratégia adaptativa diferente que ganharia no atacado. Porém, as coisas podem ser ainda mais complicadas do que estas duas perspectivas sugerem.
Existem alguns modelos que tratam não das vantagens adaptativas da homossexualidade em si, mas do comportamento homossexual que poderia ser vantajoso em um contexto de homossocialidade em que o contato íntimo eventual entre indivíduos do mesmo sexo poderia reforçar laços e aliviar tensões sociais e até aumentar o acesso a mais parceiros do sexo oposto. Neste caso, o comportamento homossexual exclusivista e heterossexual exclusivista seriam apenas extremos de um contínuo de bissexualidade contingentemente modulada pelo ambiente sociocultural e pela herança biológica.
Porém, mesmo que a homossexualidade não seja um produto direto ou indireto da seleção natural, dado a complexidade dos determinantes biológicos (especialmente neuroendócrinos) e ambientais da sexualidade humana, ainda assim, poderia manter-se em um equilíbrio, mesmo se fosse reprodutivamente desvantajosa, através da deriva, mutação e da modulação comportamental-cultural durante o desenvolvimento. Além disso, é perfeitamente possível que existam várias causas moleculares e neuroendócrinas diferentes que convirjam em um mesmo fenótipo cognitivo-motivacional-comportamental e que identificamos como homossexualidade e que recorrentemente apareça nas populações humanas. É preciso lembrar que homens e mulheres homossexuais não são (via de regra) inférteis ou impotentes e podem participar de relações heterossexuais mesmo que esta não seja sua preferência estrita.
O biólogo evolutivo Jeremy Yoder escreveu um interessante texto sobre a questão intitulado “The Intelligent Homosexual’s Guide to Natural Selection and Evolution, with a Key to Many Complicating Factors” em que alguns fatores complicadores que ocorrem em populações biológicas são explicados em maior detalhe, como a deriva genética.
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Literatura recomendada:
Coyne, Jerry (2010) Evolution, animals, and gay behavior Why Evolution is True blog Acessado em 12/05/2011.
Mooallem, Jon (March 31, 2010) Can Animals Be Gay? The New York Times. Acessado em 12/05/2011.
Yoder, Jeremy [Jun 21, 2011 11:30 AM] The Intelligent Homosexual’s Guide to Natural Selection and Evolution, with a Key to Many Complicating Factors Scientific American Blog
Além disso indico as respostas anteriores sobre esse tópico que estão disponíveis no formspring evolucionismo:
Abraços,
Rodrigo